12/05/2013

Mãe,

POR PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

Hoje eu venho à tua presença com esse ar de culpado para te reverenciar com uma lembrança.Lembrança...Lembrança não está no presente modesto nem naquele requintado.Lembrança sempre esteve nas vezes em que eu vinha buscar aconchego no teu regaço para receber o afago dos teus dedos na minha cabeça descompromissada.Sempre fui teu presente maior e nem me dei conta disso.Foi ontem, mãe, quando reparei nos teus cabelos e compreendi o recado do tempo a dizer com os fios brancos que a idade já é muitas e que uma vida inteira se passou.Quantas vezes, mãe, fui omisso na minha presença e te privei do presente maior:eu! Eu alegre ou triste, a falar das minhas vitórias ou a contar minhas mágoas para chorares comigo ou compreenderes as minhas tristezas. Não tenho jeito para confessar-te a minha culpa porque tens o dom de leres os meus pensamentos. Não caberia pedir-te perdão porque teu perdão é eterno, duradouro, como teu amor e o teu carinho. Ah, mãe, como eu queria ser criança outra vez e outra vez menino vir correndo para os teus braços, para o teu beijo, para o repouso do teu colo! Quantas vezes, noites a fio, velastes pelo o meu sono e pedistes aos céus pela minha saúde! Lembro-me de ti, dedilhando um terço de orações em conversas íntimas com a Virgem Maria, pedindo por mim. Lembro-me da lágrima mais pura e mais sofrida, chorada no primeiro adeus, quando o menino se fez homem e o homem partiu pelo mundo em busca de outros caminhos, de suas próprias aventuras, em direção ao seu destino. Era teu filho, menino travesso de ontem, aprendendo a caminhar sozinho, com ares de dono das verdades e de todas as experiências. Quanta vez, mãe não chamei pelo teu nome sagrado e querido nos sufoco das decepções e nas agonias dos sofrimentos, e era tua imagem o bálsamo maior para as dores que eu sentia.

Vir à tua presença, agora, neste dia, trazendo-te estas flores e esta lembrancinha, é confissão maior da minha omissão. Teu dia, mãe, é todo dia e eu tenho esquecido disso com freqüência.A gente aprende a voar e pensa que pode percorrer todos os espaços de um só fôlego e vai esquecendo de voltar, vez por outra, ao ninho amigo dos primeiros passos, onde sempre ficas a aguardar o nosso retorno sempre bem-vindo.Este versinho eu encontrei entre os papéis velhos do meu pai, teu companheiro de uma vida: “Mãe, o teu nome sublime/Que não tem rima no verso/É a síntese que exprime/ A grandeza do Universo” e com ele eu homenageio às mães de todo mundo: às mães que nunca são lembradas porque seus filhos estão limpando os pára-brisas de carros nos semáforos; às mães da “Praça da Capelinha”, mundo afora; as mães que choram saudades eternas dos filhos que se foram nessas guerras idiotas; com esse versinho, mãe, eu te rendo a minha homenagem e peço a Deus por ti numa prece acanhada de quem reza pouco.Eu...eu te amo, mãe!

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é jornalista e doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-(ECA/USP). Jornalista profissional desde 1980, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV), nas funções de repórter. Atualmente, Paulo Caminha é jornalista e professor universitário aposentado.

Acesse e leia o blog do jornalista: http://paulocaminha1.blogspot.com.br/

Um comentário:

Maria Aparecida disse...

Maravilha de Crônica.Parabéns senhor Jornalista!Que Deus ilumine este cérebro maraviloso.