29/06/2012

Quarto de Hotel

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista Correspondente

Estou em São Paulo. Em São Bernardo do Campo para ser mais preciso. Terminei o trabalho para qual fui designado e, agora, estou recolhido num quarto de hotel. É um hotel confortável, um dos melhores da cidade, escolhido com a doce irresponsabilidade de quem tem a despesa custeada pela empresa.

Tomo um banho demorado, usufruindo a gostosa ducha que esguicha com força sua água sobre o meu rosto cansado. Foi um dia cansativo, compensado somente pelo prazer proporcionado pela minha décima viagem de avião.

Visitei obras, entrevistei engenheiros, recebi um calhamaço de informações técnicas e suei a camisa ao passar por reatores monstros, verificando comportas e uma infinidade de lugares, conhecidos, até então, somente por fotografias e textos de revistas especializadas. Era uma usina hidrelétrica e alvo de minha história.

Agora, porém, encerradas as reportagens do dia, estou recolhido para o devido descanso.Depois de um banho, passeio pelo quarto buscando intimidade com os móveis e objetos que farão parte do meu cenário noturno.

E não identifico nada que me prenda a atenção. Olho pela janela aberta e aprecio o movimento, lá embaixo, com desinteresse.

Uma grande massa de seres humanos desconhecidos caminha em direções diversas em busca de seus destinos. E sinto o tédio dos retirantes que deixaram seu lugar de origem em busca de uma vida melhor.Não é o meu caso, evidentemente, pois, em breve, estarei de volta à casa, após o trabalho cumprido.Mas a solidão persiste.E nem o luxo que me cerca preenche o vazio que me deprime.

Busco nos fantasmas do passado o conforto para minha angústia, mas as imagens me fogem. É como se eles, assim como os familiares e amigos vivos, tivessem ficado em minha terra distante. Covardes! Suas ausências não se justificam já que não precisam dos vivos para se locomover.

Lembro paixões doentias, mulheres maravilhosas que fizeram de minha vida este amontoado de sentimentos que me faz transcrever para o papel minhas emoções.

Mas elas também me fogem à memória, escapam como água entre os dedos e descem pelo ralo da distância, projetando-se no fosso do esquecimento.

Sozinho, sem ninguém com quem trocar palavras, cercado por pessoas estranhas, sinto-me perdido, desorientado. Saíra de Itabuna aborrecido por pequenos problemas e não via a hora de estar só com meus pensamentos.Estava fugindo, por isso aceitei com satisfação a tarefa de cumprir um trabalho fora do Estado da Bahia.

Agora, entretanto, cercado de carpetes, lustres e mobílias de luxo, estirado nos lençóis de seda desta cama macia desfilando minha nudez pelo quarto vazio de esperança, percebo a importância das pessoas que fazem parte de meu dia-a-dia, e como estava perto da felicidade que, tantas vezes, busquei nos inúmeros painéis luminosos que sempre povoaram minhas fantasias.

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-(ECA/USP). Paulo Caminha é jornalista profissional desde 1980, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV). Atualmente, é professor universitário e jornalista correspondente do jornal americano The New York Times.

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

26/06/2012

Quando o retorno à ética é necessário

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

Assiste a um grotesco espetáculo na mídia, no falso brilhante das denúncias à desenfreada corrupção, que maltrata a sociedade brasileira.Isso ocorre diariamente, numa repetição que enfadonha, pois, a gente comum, que precisa e quer resultados, não mais crer em política e, menos, na Justiça.As conseqüências desse comportamento, da maioria dos cidadãos, põe em dúvida o regime democrático.O que vale ser honesto neste país? O que vale pagar impostos? O que vale ser participante? As respostas dadas são as mesmas, pois os cidadãos sentem na carne a insensibilidade, o cinismo a hipocrisia a justificar o atual estado de coisas que vivemos.Será que vivemos?

O afastamento de alguns poucos vereadores da Câmara de Itabuna poderá ser um bom indício de que o país começa a tomar jeito, combatendo a corrupção e punindo seus autores.Mas, sempre o mas, é que não dá para acreditar na sinceridade da maioria esmagadoras dos parlamentares. Razões: continuam eles a ter (duodécimo) à custa do povo incompatíveis com a realidade brasileira: permanecem com dezenas de assessores para coisa nenhuma: influenciam na tomada de decisões das aplicações das verbas: mantêm, indecorosamente, veículo com motorista de cargo dos contribuintes e tantas outras coisas mais.

A indiferença, sintoma grave, dos jovens à política, aos políticos e à busca de soluções para os problemas da comunidade e do país, deve ser, com urgência, revertida.Aos jovens, o crédito do ideal e a construção de utopias; o sonho ainda vive e o amor, pelo Dom de ser amado com intensidade.

Só um verdadeiro “desvio padrão” do comportamento dos políticos, que refletem o poder, para valores imanentes ao homem (honra, dignidade, sinceridade, patriotismo, lealdade) se começará a reconstruir o Brasil, tão almejado.

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-(ECA/USP). Paulo Caminha é jornalista profissional desde 1980, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV). Atualmente, é professor de Língua Estrangeira e jornalista correspondente do jornal americano The New York Times.

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

25/06/2012

A árvore da minha infância

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

Uma das coisas mais antigas do mundo são as árvores e, se a gente parasse um pouco para observá-las, poderia descobrir o quanto uma árvore pode torna-se importante em nossa vida e até mesmo nossa miga.

Eu, quando criança, morava numa pequena cidade do interior e em nossa casa havia um pomar com algumas árvores frutíferas, dentre as quais eu escolhi uma de minha preferência.Era uma figueira frondosa e que todos os anos dava muitos frutos.Essa figueira foi minha companheira durante a minha infância e também da minha adolescência.Ela cresceu junto comigo.No princípio havia dois galhos grossos e cheios de folhas, os demais eram galhinhos, definidos ainda que confusamente, com o propósito de tornar-se um dia também grandes troncos.

Foi sob os galhos dessa árvore, gozando às delícias de sua sombra, que eu decorei a tabuada, o livrinho de catequese, os verbos da primeira, segunda e terceira conjugação e os pontos de geografia e história do Brasil. Era à sombra também que eu passava momentos deliciosos brincando de índio e jogando flechas.Era no topo dos seus galhos fortes que eu subia a fim de avistar o meu pai quando voltava do trabalho tardinha, para poder encontrá-lo.

Era em baixo da boa figueira que ia chorar quando levava uns tabefes por ter realizado alguma travessura.Parecia haver algo magnífico naquelas folhas tão verdes, que fazia esquecer o motivo pelo qual eu fora parar ali.

Além de desfrutar da sua sombra espessa e agradável e de seus saborosos frutos, eu também a fazia de minha confidente.Sobre os mais variados assuntos eu conversava com ela; parecia que ela me escutava e entendia e então eu saía dali calmo e aliviado como se saísse de um confessionário.Quando a brisa soprava muito forte eu gostava de ver os seus galhos balançarem como num passo de dança reproduzindo uma melodia branda, como se cada um de seus ramos soasse uma música suave em harmonia com o vento.Quando eu sentia a necessidade de fugir do mundo em busca de um sonho, era em baixo da minha figueira que eu me refugiava a fim de poder isolar-me e sonhar à vontade.

Foi ali, àquela sombra, que eu comecei a pensar numa profissão, num curso superior, e como fazer para alcançá-los.

Muitas outras árvores do nosso pomar foram derrubadas, mas a minha velha figueira, apesar de ser considerada já inúltil para dar sombra e frutos, continua lá, intacta.Hoje já não é mais aquela árvore frondosa e bela de antigamente.Seus galhos são somente troncos secos.Suas folhas, já nenhuma mais existe, mas mesmo assim não deixei que ela sofresse os golpes alucinados de um machado.

Os anos foram passando e me tornei adulto.Por exigências da vida fui obrigado a mudar-me e deixar, naquela pequena cidade do interior, a minha fiel e boa amiga.Hoje, quando volto lá, a passeio, gosto de olhar e tocar nos velhos galhos secos, sem folhas nem frutos, como tudo o que um dia envelhece e perde o brilho.Contemplando aquele esqueleto de árvore eu recordo com saudade dos doces momentos que passamos juntos e sinto que, enquanto ele estiver de pé, uma parte de minha infância ainda vive.

Quem me dera hoje eu pudesse cultivar em meu quarto uma árvore como aquela para ofertar à minha solidão.

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-(ECA/USP). Paulo Caminha é jornalista profissional desde 1980, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV). Atualmente, é professor de Língua Estrangeira e jornalista correspondente do jornal americano The New York Times.

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

A fábula

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista e Escritor

Encontrei-a pelo caminho e nem buscando estava. Encontrei-a num desses acasos da vida, numa dessas coincidências que, à primeira vista, são agradáveis.E me deixei embevecer.Mas, deixei-me enfeitiçar por um canto de sereia, por um olhar magnético, hipnotizante, penetrante e sedutor.Estava carente e aquiesci-me às insinuações.

Encontrei-a pelo caminho. Ou era um atalho? Não importa. Encontrei-a. Sorrimo-nos tão próximos que a invasão de um desejo comum para beber-nos num mesmo beijo foi natural. A surpresa pelo inusitado e a timidez óbvia pela aproximação inesperada, reprimiu-nos daquilo que mais tarde se constituiria no primeiro arrependimento. Não houve o primeiro beijo.Esse, perdeu-se naquela indecisão, naquele medo festivo, num sorriso acanhado, com os que se descobrem na coincidência do furto comum da mesma rosa num jardim que a nenhum dos dois pertence.Foi assim... nem mais, nem menos.

Lembro-me que endeusei-a.A cada êxtase pela maravilha do espetáculo ante a divindade de cada nudez, a ilusão de uma dádiva dos céus. Tê-la nos braços para o amor era o sonho, a ilusão, a miragem do beduíno das mesmas caminhadas pelos desertos tantas vezes cantando e relembrando na mesmice cansativa do poeta. Era fantástico vê-la no meu regaço, farta, num aconchego que me comovia. Fi-la deusa e ajoelhei-me aos seus pés para orar em silêncio, dizendo minhas preces de homem apaixonado. Paixão...Falam de paixão como coisa superada, arcaica, velha, ultrapassada.Valham-me as acusações ou julgamentos! Que se danem os frios e vazios. Aqueles que se banqueteiam apenas na carne vendida ou oferecida das Mulheres de Atenas que campeiam pelo mundo do desamor. Gosto de chegar na certeza de uma saudade que me aguarda ansiosa, que me sorri, que me abre braços e lábios para as boas-vindas do andarilho do dia-a-dia.Gosto das rusgas pequenas porque elas são a ante-sala das reconciliações com sabor de novidade, de perdão, de mais paixão, como se o poeta redescobrisse o amor em cada rima que vai encontrando fácil nas querelas superadas do casal.Era assim, exatamente assim que eu pensava e assim vivia.Assumo.No dia em que não existir mais paixão dentro de mim, meu corpo jazerá inerte porque nele não haverá mais nenhum sopro de vida.Romântico... Sim, sou romântico e é por isso que ainda acredito nas estrelas e na magia do luar. Acredito nas estórias que contam os ventos rasteiros que sopram de madrugada, fazendo companhia ao homem que caminha perdido em seus pensamentos solitários.Mas me acredito um último romântico mas, se fosse, sê-lo-ia com orgulho porque é o romantismo que ainda me deixa acreditar na última esperança do mundo: o ser humano!

Romântico, levei-lhe flores. Apaixonado, compus-lhe versos e escrevi-lhes odes. Construir-lhe um pedestal e preguei sua imortalidade valendo-se da imortalidade do amor.

Depois de tudo, depois de tanto descobri que, ao contrário da fábula do Esopo, tive as uvas nas mãos. Eram realmente muito bonitas e era uvas. A diferença estava dentro, por isso, enganavam na sua aparência – as uvas estavam podres, mas não envenenaram nem acabaram o romântico e o apaixonado que o poeta teima em não deixar morrer de vez...

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Jornalista profissional desde 1980, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV), nas funções de repórter. Atualmente, é jornalista correspondente e professor de Língua Estrangeira.

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

A estrada é longa

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista e Escritor

A estrada é longa e silenciosa. Tenho medo.Não das sombras, nem dos fantasmas que espreitam nas curvas.O tempo não é muito, mas é o bastante para aumentar a minha angústia.Tenho pressa, mas aguardar é o que me sobra.A distância pode ser grande na geografia, mas o sentimento é vizinho.Nem longe nem perto mas é a ausência física que, neste momento me sufoca, me consome, me alucina.Minhas mãos tateiam no escuro e vão tocar o nada...Um perfume no ar.Uma recordação mais forte.O sonho é real.Poso vê-a, posso senti-la.Abraço-me aos fantasmas da última vez e escuto a voz que se ficou numa confissão sumida da despedida que nunca pedi.Deixei escapar um soluço e o pranto se aproveitar para chorar uma saudade que me pegou desprevenido.Finjo uma segurança e tremo ante as reclamações que já são muitas de um tempo tão pouco em horas tão curtas.A estrada é longa e silenciosa.Falta-me a coragem para escapar para dentro dos atalhos convidativos que enfeitiçam a minha solidão.O amor que grita por mim me dá força para não escutar o canto das sereias mentirosas.Tudo é tão mágico! Ainda acredito na ilusão de ontem. Apego-me às esperanças da dúvida do manhã com todas as certezas do meu hoje.Amanhã será um novo dia...Tento convencer-me.É preciso.

Havia um soluço na voz na hora do adeus.Havia um desespero no adeus na hora da despedida.Ainda tentei impedi-la com um beijo.Os lábios haviam fugido.Não havia mais corpo para abraçar.Ficou-me um ar pesado, espaço vazio do corpo que se foi. “Amo você” – gritei. “Preciso ir... – disse sem se voltar.O apito do trem traduziu meu grito na curva.Ficou a fumaça indecisa, assumindo formas, desfazendo-se lenta, até sumir, como sumiu o trem, como sumiu a felicidade passageira que chegou apressada e tomou seu caminho, no trem, depois da curva, atrás da montanha, onde mora a esperança, numa casinha branca, onde mora o amor daqueles que ainda se apaixonam...

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP).

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

21/06/2012

Jornalista lança seu segundo livro de crônicas em São Paulo

VERA LÚCIA (*)
Da Redação

O jornalista Paulo Caminha lança, no dia 31 de dezembro, a sua mais recente obra literária intitulada “Ah, se o tempo voltasse”, às 20 horas, na Escola de Comunicações e Artes-(ECA/USP), localizada na Cidade Universitária, em São Paulo.

Trata-se de uma coletânea de crônicas inéditas abordando temas relativos ao amor. O livro tem apresentação do mestre do jornalismo no Estado de São Paulo, o Carlos Acuio, e o prefácio de Arlindo Nóbrega, outro mestre do nosso jornalismo. Muito do correto, Caminha, e sucesso então.

13/06/2012

O dilema: investir em presídios ou escolas?

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

As pequenas cidades no Estado da Bahia vivem uma autêntica “guerra”, travada entre a sociedade indefesa e uma bandidagem a cada dia mais violenta e ousada. Escondidas no meio das multidões, ladrões, assaltantes e assassinos subjugam a coletividade composta por pessoas de bem, honestas e trabalhadoras, e muitas delas vivendo o drama do desemprego ou de atividades informais. Imaginemos uma guerra convencional, entre dois ou mais países, nessas continuadas e intermináveis batalhas entre israelenses e palestinos. Como se pode concluir que uma das partes sairá vencedora? O que é vencer uma guerra? É herdar uma quantidade enorme de feridos, de prisioneiros, que acabarão por consumir muito dinheiro do suposto “vencedor”.

Talvez, ao fazer esta conta, tiranos preferem matar aos vencidos, resolvendo pelo caminho da cruel da matança injustificada e indiscriminada, a questão de reduzir gastos com os altos custos falsa “vitória”. Pois a guerra urbana igualmente coloca o administrador público, e com ênfase, as autoridades judiciárias e policiais no mesmo dilema: não se pode eliminar uma pessoa porque ela descumpriu a lei, nem mesmo a pena de morte poderia ser adotada como “remédio” coletivo, porque o efeito drástico de sua aplicação irreparável.

Longe de se colocar entre o “carrasco” que deseja matar a todos que transgridem as leis e as convenções sociais da civilização moderna, e o “samaritano ingênuo”, que considera que a criminalidade se combate somente com palestras, palavras e sermões, o dilema efetivo de governantes de hoje e de amanhã é decidir como tornar compatíveis investimentos públicos que consigam atender à infeliz e crescente demanda de unidades prisionais, e outros de melhor resultado, que é na Educação, sem esbarrar na divisão, e na escolha errada, que pode se transformar no atalho que leva à demagogia.

Este será certamente o desafio da presidente da República e dos governadores de forma direta, mas tem tudo a ver com a obrigação de deputados federais e senadores, que podem e devem fornecer o instrumental de que necessitam a Justiça e os aparatos policiais civis e militares para a defesa da sociedade civil desarmada e bem-intencionada, de marginais que desprovidos de regras e contando com a impunidade previsível, sofisticam e aperfeiçoam suas ações criminosas e delituosas.

Os números que a mídia tem trabalhado indicam que cada preso custa em média ao Estado da Bahia, R$ 1,5 mil mensal. Isso inclui a “hotelaria” completa, com alimentação, “moradia” e serviços diretos de carcereiros e na segurança dos presídios. Uma criança no primeiro grau da escola, custa R$ 173,00/mês. Está claro que não é o fato de uma criança cursar uma escola que a fará fugir do mundo do crime, e os criminosos não são necessariamente analfabetos.

Então, somente construir escolas não vai acabar com o crime, mas vai amenizar substancialmente o problema da criança de hoje quando ela atingir a maturidade. Na medida em que ela, a criança, recebe uma boa forma educacional, tem meio caminho andado para a busca de seu lugar na vida adulta, tanto no mercado de trabalho, quanto na legítima disputa pela ascensão social.

Alguns especialistas calculam que o déficit de vagas nas prisões do Estado da Bahia gire em torno de 170 mil condenados que deveriam estar cumprindo penas, brandas ou pesadas, injustas (existem penas que poderiam ter alternativas que não o puro e simples confinamento do condenado) e justas. Para tanto, o atual governador pelos módulos considerados como ideais (de 100 presos/ estabelecimentos) precisará construir 200 unidades prisionais! E contratar gente qualificada para esses serviços, além do dispêndio de custeio e manutenção. Se o governador fizer somente isso, não se elege nunca mais, nem para síndico de prédio ou inspetor de quarteirão.

Distante do “tiroteio” (rigorosamente a melhor palavra para definir um texto tão explosivo), e sem engajamento político-partidário, haveremos de concluir que o Governo do Estado tem investido substancialmente na recuperação e na ampliação de unidades prisionais e penitenciárias, mas o resultado parece insignificante, porque as prisões continuam superlotadas. Como não se pode acabar com a criminalidade a não ser pela mão isenta da Justiça, o que precisamos é dotar o Judiciário de leis e alternativas penais de um lado, e de outro, investir o mais que a capacidade de investimentos do Estado permitir, na Educação, desde a primeira infância, na pré-escola, em creches que acolham notadamente a criança de família carente. Conviver com esse número que sugere que a sociedade é perdedora nessa guerra, enquanto vítima da violência e da criminalidade, pressupõe ações governamentais realistas e no mínimo bem planejadas, para que o discurso não transforme o pavor da população em votos subtraídos do medo que o cidadão e a cidadã comuns tem de viver em nossas cidades.

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-(ECA/USP). Jornalista profissional desde 1980, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV), nas funções de repórter. Paulo Caminha é também professor de Língua Estrangeira, estudou como bolsista da Fundação Rotária, do Rotary Club Internacional (EUA).

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

02/06/2012

Dez anos da morte de Tim Lopes

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

A morte cruel e bárbara, do jornalista Tim Lopes, repórter da Rede Globo, que tentava mostrar como funciona o tráfico de drogas no Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, é reveladora de que o narcotráfico desrespeita, desconhece a lei, e banaliza a vida, segundo seus estranhos critérios de quem tem direito à vida, e de quem só tem direito à morte, por tentar interferir em suas atividades criminosas.

É um “código penal” deles, poderosos facínoras que cometeram um crime hediondo contra o jornalista, que teria sido torturado antes de morrer.E traficantes e criminosos que fazem parte desses “exercítos” formados por conta da impunidade que reina no Brasil, prosperam com as imensas e fabulosas somas que o crime fornece a eles, dinheiro sujo que é usado para armamentos, suborno de policiais desonestos, e a “compra do silêncio” que conseguem, mediante agrados para comunidades carentes, ou na base e pura e simples da intimidação, nos locais onde então incrustrados os seus “quartéis-generais”.

No entanto, desta vez, foram longe demais! Não apenas porque mataram um jornalista que pertencia aos quadros da importante Rede Globo de TV: principalmente por haverem desrespeitado a nós, enquanto jornalistas, e a instituição conhecida como Imprensa.Mas grave ainda, é a demonstração de que todos nós cidadãos estamos sujeitos à esta nova forma de violência e de “ditadura” dentro do nosso país: a “ditadura do medo”.E não podemos esquecer que Tim Lopes, um profissional sério e competente e um dos mais festejados nesse pequeno, porém valioso “time” de jornalistas que investigam com audácia e destemor, morreu pela “condenação” à morte por organizações criminosas, sem que a polícia, a Justiça tenham elementos suficientes para a punição exemplar.

Longe de partirmos para a defesa da pena de morte, mais muito perto de nós está a realidade: ou as nossas polícias se preparam devidamente, inclusive com equipamento adequado e pessoal especializado: bem como a Justiça possa passar pela reformulação que conceda aos juízes e magistrados os instrumentos legais para penas mais duras, de duração compatível com o tamanho do delito cometido, e especialmente, que impeçam que criminosos violentos e que causam da nos irreparáveis para suas vítimas e famílias sejam beneficiados por redução de pena, liberdade condicional e outras manifestações, que dão o refresco ao criminoso para que possa imaginar que rapidamente estará de volta às ruas.

Os matadores de Tim Lopes atingiram em cheio ao fundamento de quelquer Democracia, que é o dever da Imprensa de denunciar e informar.A liberdade de expressão é o pressuposto indispensável à qualquer sociedade que se pretenda rotular de livre e democrática, onde a plenitude do Estado de Direito é a mais importante salvaguarda da população.E estamos experimentando na nossa própria carne, vendo escoar pela via da impunidade, o sangue de brasileiros e brasileiras inocentes.É neste clima de indignação que os nossos legisladores, sim, deputados federais e senadores, precisam legislar, dando à Justiça os meios para que volte ao nosso cotidiano a valer o chavão, o bordão simplista, de que o crime não compensa.Sem punição rigorosa, os criminosos vão continuar assaltando, estuprando, violentando e matando, através de suas leis próprias, e desconhecendo o ordenamento da sociedade civil, cujo princípio básico é o de que todos somos iguais perante a lei.Que medo pode tomar conta do criminoso, se ele tem a certeza de que não será punido? Se criminosos, que agem com mais ou menos violência, sabem que podem quando muito passar uma curta temporada na cadeia e depois voltam tranqüilamente às ruas para amedrontar cidadãos incautos e cidadãs indefesas?

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é mestre e doutor em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-(ECA/USP). Paulo Caminha é jornalista profissional desde 1980, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV). Atualmente, é professor de Língua Estrangeira e jornalista correspondente.

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br