25/08/2012

Quem será?

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

Itabuna terá seis candidatos nestas eleições, são eles: José Nilton Azevedo (DEM), Juçara Feitosa (PT), Claudevane Leite (PRB), Zem Costa (PSOL), Zé Roberto (PSTU) e Pedro Heliodoro (PCB).Segundo analistas, cientistas políticos, marqueteiros, jornalistas, curiosos e palpiteiros, um dos nomes acima deverá ser o futuro Prefeito de Itabuna. Não duvido.Mas uma dúvida me deixa inquieto.O que vai mudar com qualquer um deles? Torno a ler os nomes, um por um, bem devagar e, sem demérito a qualquer um deles, não sinto o menor entusiasmo. Devo estar exigente demais - penso, e resolvo tentar mais uma vez.Releio e, para falar a verdade, fico quase torcendo para que um deles me cause pelo menos uma leve excitação de novidade, de mudança ou de esperança.Mas...nada.São experientes, sérios, competentes e honestos.Mas...iguais.Embora diferentes, são iguais.E o que os torna iguais? Em todos eles falta a predestinação, a ousadia e o carisma que difere um Prefeito de um Estadista. E isso, não há marqueteiro que consiga criar.

(*) PAULO CAMINHA é mestre em jornalismo e doutor em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo (USP). Paulo Caminha é jornalista profissional desde 1980. Trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV). Atualmente é jornalista correspondente.

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

23/08/2012

Segurança deve ser preocupação dos futuros prefeitos

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista correspondente

As pesquisas de opinião pública merecem uma avaliação mais serena, especialmente quando nos referimos à sua importância na política, e, por conseguinte, em eleições.Sempre, e isso serve para qualquer prospecção de tendências, elas refletem o que as pessoas pensam sobre determinados temas ou pessoas naquele momento específico.

Fica muito claro que existem convicções partidárias, ideológicas até pessoais que tem um espectro mais permanente. Então, nesses casos, o casual, o instantâneo não modifica essa posição, e isso faz, por exemplo, a gente saber que determinada facção política ou determinado líder partidário terá percentual histórico em qualquer quadro eleitoral.

Assim, existem temas temporais, que fazem reverter ou inverter uma tendência do eleitor.O tema desemprego foi um dos mais perenes em todas as últimas três eleições presidenciais.Será novamente em 2012? Claro que sim, mas perdendo de longe para a preocupação do cidadão com a Segurança Pública, isto é, com a responsabilidade que o Estado (aí seja federal, estadual ou municipal) tem perante a sociedade. No entanto, pelo aumento absurdo do nível de agressividade e violência, essa preocupação desce ao microcosmo da família e chega à segurança pessoal.

É como se todo o aparato policial civil e militar estivesse com uma única massa incompetente, o que convenhamos, não é verdade.Independentemente de suas falhas estruturais, materiais e de pessoal (não vamos discutir a corrupção e os maus policiais, porque isso merece uma outra avaliação), a polícia seja em que cidades do mundo se medir a sua eficiência, exerce um papel de fiscalização e investigação.A sua ação preventiva depende de outros componentes sociais para a obtenção de resultados melhores e mais palpáveis.Disso decorre a menor incidência de violência urbana quanto menor for a cidade.As grandes cidades, exatamente por que dispõe de menos equipamentos urbanos, são propícias ao agrupamento de ladrões, assassinos, e a relação habitante por policial, se perde numa cidade de 206 mil habitantes, como se estima Itabuna, à problemática situação da Capital, com seus mais de três milhões de habitantes.Em tese, cidades de porte médio como Ilhéus, Vitória da Conquista, Feira de Santana, são menos violentas que a Capital, assim como, estas últimas são muito mais violentas que Porto Seguro, Teixeira de Freitas ou outras simpáticas e amenas cidades interioranas.

Ligar, como fazem alguns analistas políticos ou cientistas sociais, a elevação dos índices de criminalidade aos itens educação emprego, é atender ao princípio básico da organização social: com escola e vida digna, a criança tem tudo para atingir a adolescência e a vida adulta como homem de bem. No entanto, a realidade social e econômica brasileira é de uma crueldade trágica, pois os bolsões de pobreza, além de numerosos, se espalham pelas grandes metrópoles pelas pequenas cidades formando um tenebroso estoque de favelados e carentes. Atacar a origem desse mal, portanto é criar condições de emprego na indústria, no comércio, mas antes, lá no campo, pela via da agropecuária.

Se vale dizer, que precisamos ampliar a reforma agrária, está dito! Ou melhor, que isso, adotar uma política agrícola nacional que fixe o homem no seu habitat, ou em sua terra. Estaremos chegando então na parte preventiva da criminalidade, que se estriba no tripé da educação, saúde e emprego. Resta, contudo a parte curativa, que é reverter essa escalada da violência que cresce pelas razões apontadas antes, mas com ênfase para a questão das nossas leis, que criam a sensação da impunidade, sensação que, infelizmente, é real! O criminoso que por maior e mais grave for o delito cometido, haverá sempre uma válvula de escape legal, para recolocá-lo no “mercado, do crime, é óbvio”.

Esse item da Segurança Pública praticamente resume como será a campanha para a eleição para prefeito em 2012. Note-se que estamos nos referindo ao Poder Executivo. E por que? Rigorosamente porque quando o povo elege um governante, está votando na proposta do candidato, na pessoa, e na filosofia de governo que ele promete implementar. O combate ao crime organizado e também ao desorganizado, ao fortuito e banal, porque pessoas perdem a vida porque esboçam surpresa diante de um bandido drogado, com medo, ou portador de maldade congênita. E todos sabem que lá na frente, será preso e colocado num “depósito” de gente, onde precisará se “doutorar” em crimes para sobreviver, restando-lhe a tentativa da fuga, ou se valer das muitas benesses que leis arcaicas lhe oferecem.

(*) PAULO CAMINHA é mestre em jornalismo e doutor em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo (USP). Paulo Caminha é jornalista profissional desde 1980. Trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV). Atualmente é jornalista correspondente.

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

22/08/2012

Na escócia, em busca do bom uísque

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista correspondente

Confesso: não fui à escócia fazer turismo, ouvir gaita de fole,ver saiote de homem, mulher de cabelo vermelho, ovelha lanuda, nobre decadente, gado de raça ou castelo medieval.Digo a verdade:só fui a velha Escócia para conferir (e degustar) um dos maiores prazeres da vida civilizada: o bom, generoso e inspirador uísque escocês legítimo: o puro e respeitável scotch – a bebida que (segundo as últimas estatísticas da ONU) “faz a cabeça”, diariamente, de mais de oitenta e sete milhões de pessoas em todo o mundo.Pessoas que não acreditam que o álcool, quando bem tomado, seja uma doença do corpo ou da alma: mas sim um encanamento, no sentido do termo, de espírito:um encanamento talvez do “Espírito” da própria humanidade: de seu inconsciente coletivo.Não um vício.Mas uma virtude.Tim-tim.

Em Londres já havia bebido em pubs sofisticados e fechadíssimos como Saint-James, o Carlton ou o Pall Mall, mas prefiro os bares da velha Escócia, eles são mais democráticos e populares: neles todo mundo bebe em pé, serve-se à vontade, paga quando quer, fala mal do governo e conta piadas infames. Os pubs da Escócia abrem às onze da manhã, fecham às três da tarde, reabrem às quatro e fecham definitivamente às onze e meia da noite.Quando falta alguns minutos para a hora fatal, o barman gringo bem alto: “Time! Gentleman! Please!

Então todos tratam de esvaziar os copos, porque dali para frente a lei prevê punições (não tão severas como a nossa “Lei de Segurança”) para quem ainda insistir em bebericar.Com um horário tão apertado para “fazer a cabeça” é explicável que os escoceses bebam o máximo de tempo.E mais: prefiram bebidas fortes: fulminantes, de bate-pronto.É aí que o uísque entra na história.Há 60 anos atrás o uísque era uma bebida ainda pouco consumida no mundo.Perdia para o vinho, o vermute, o rum, a champanhe – e até mesmo para o maldito gim.Hoje ele é absoluto e chega a ser destilado e até fabricado no Japão, Paraguai, Iêmen do Sul, Nova Zelândia...e Brasil...Mas, depois de visitar as incríveis destilarias da velha Escócia, qualquer um chega à conclusão que é literalmente impossível de fabricar uísque fora do Reino Unido.

Por motivo muito simples: a fabricação de uísque exige a presença da turfa escocesa (material combustível ainda no primeiro estágio de formação do futuro carvão mineral) cuja fumaça, passando através dos grãos de cevada, é que vai dar ao uísque seu famoso sabor, levemente queimado.Não há uísque sem a fumaça da turfa escocesa.Nunca! Jamais! Em tempo algum! Em lugar algum nenhum! Mesmo porque a turfa escocesa tem a sua exportação proibida.Crianças: o que se bebe por aí pode até ser uma aguardente muito honesta e saborosa (dependendo do paladar de cada um), mas digo e repito: não é uísque.

Diz a lenda que foi São Patrício (simpático santarrão irlandês) quem inventou a destilação do scotch.O fato é que o clima frio e inclemente da Escócia permitia que ali se plantasse apenas um tipo de cereal altamente resistente: a cevada, com a qual alimentava o gado, faziam seus pirões e tiravam um tipo de bebida chamada “wyskebaugh”, uma espécie de cerveja enfumaçada que ficava depositada nos porões dos castelos medievais e nos navios que sangravam os mares do Norte.Há pouco mais de cem anos é que os fabricantes tiveram a genial idéia de misturar essa bebida do Norte com outra aguardente mais amena, fabricada no Sul, surgindo então o Blended que conserva o sabor da bebida primitiva, com aspecto visual mais agradável e palatável.A base do bom uísque é sempre o grão: finíssima cevada que só cresce nos planaltos altos e frios.Depois de bem lavadas, as sementes ficam de molho por três dias.A seguir o grão é escorrido, espalhado num amplo terreiro e levemente borrifado com água quente – é o que permite que se inicie o processo de germinação.Depois é colocada para secar por mais de três dias sobre uma tela cujo combustível – repito – é a famosa turfa marítima escocesa, da qual emana uma fumaça lodada, aromatizada e insubstituível.Depois de seco, o malte, assim obtido, fica em repouso um tempo para “curar”.A seguir ele a ser misturado com água quente para a fermentação.A mistura segue então para os alambiques de cobre, a fim de ser destilada.Um vapor sobe pelos complicados tubos – é resfriado, condensado – e o álcool então se separa do líquido fermentado.O produto da primeira destilação volta novamente aos alambiques e mediante adição de água cristalina nas nascentes escocesas vai para os imensos barris de carvalho ou de cerejeira, conforme o status -, onde repousa (nobremente) durante três longos anos.Antes de entrar nos barris ainda era uma bebida branca, transparente, incolor.O tom caramelado é obtido através da qualidade da madeira do tonel da qual envelhece. Nada de corantes artificiais.Nada de essências gustativas.Uísques de luxo chega ficar dez (ou vinte) anos nos barris de cerejeira.Transformam-se em bebidas mais licorosas – como o meu preferido, o “ Royal Salute”, que só deve ser tomado após o jantar, sem gelo.Dentre as marcas de combate que se permite, serem usufruídas com gelo, eu recomendaria “Lagavulin”, forte, denso e seco.Quando bebido em jejum, no entanto, ele á capaz de ter efeito altamente inspirador, quase psicodélico.

Para quem é amigo do velho fígado seria interessante dedicar-se a uísques mais fracos, mais claros, como o Mc Callun’s, que aliás era o preferido do legendário escritor irlandês James Joyce e Carlos Acuio, talvez o homem que mais entendia de uísque, autor do livro “Bebendo e Andando”.Tim-tim.

(*) PAULO CAMINHA é jornalista e doutor em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é jornalista correspondente.

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

21/08/2012

Itabuna: uma cidade abandonada

PAULO CAMINHA (*)
Da Redação

Quem andar por qualquer parte de Itabuna não terá problema nenhum para chegar a uma conclusão: o poder público municipal perdeu o controle da administração. A cidade está abandonada. Os buracos tomam conta das ruas, até mesmo do centro; o lixo está jogado aos montes por todos os bairros; a saúde destroçada, ruas sem iluminação pública, praças desprovidas do verde e flores, etc. Este é o retrato de uma cidade que completou 102 anos de emancipação. Itabuna vive uma aula de demagogia e incompetência. A cidade se esvaindo em sangue, com mais de 108 crimes de morte até agora. Apenas três ou quatro presos, entre os assassinos dos 108 mortos e os demais soltos nas ruas da cidade, sendo grande parte deles ligados ao tráfico de drogas que domina a cidade. Vale salientar que os mandantes, senhores do tráfico de drogas e do tráfico de influência, continuam soltos. Dez a quinze assaltos diariamente nas ruas de Itabuna.O Hospital de Base, mantido pela prefeitura local, falta tudo: médicos, medicamentos, luvas, funcionários, etc. Um verdadeiro descaso!Uma limpeza pública desastrada, com as ruas sufocadas de montes de lixo, mesmo com serviço terceirizado a R$ 1,6 mil reais por mês. O Rio Cachoeira completamente apodrecido há três décadas, sem nenhum projeto de limpá-lo. A juventude entregue nas mãos dos traficantes. O sistema de transporte coletivo destruído. Enquanto o prefeito de Itabuna, José Nilton Azevedo (DEM), tenta enganar a população, realizando obras de fachada com intenções eleitoreiras, gastando fortunas do dinheiro público com propagandas enganosas. Itabuna precisa sair desse marasmo administrativo e encontrar novos caminhos para o desenvolvimento. Acorda, Itabuna!

Insegurança Geral

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

A morte da pequena Ana Ketlin Santos de Jesus, 4 anos, executada com um tiro na cabeça enquanto dormia em sua casa no bairro Corbiniano Freire, em Itabuna, trouxe à tona o que todos já pressentiam e temiam: a segurança pública no Estado da Bahia está fora de controle.Não adianta o Governador afirmar que a Polícia está trabalhando como nunca e que já prendeu não sei quantos criminosos este ano.O problema é que a população está apavorada e já não confia que a Polícia possa lhe proporcionar segurança.E quando a sensação de medo e desamparo atinge a população não bastam mais palavras e promessas.Não bastam mais justificativas ou explicações.Agora é preciso ação.É preciso que o governo reveja suas ações na área de segurança e reassuma urgentemente o controle da situação. É isso que a população espera. É isso que todos nós esperamos.

Pergunta no ar - Da série perguntar não ofende: afinal de contas, o que o Estado tem feito pelos nossos jovens? Existe incentivo à prática esportiva? E cursos de capacitação? Quantos dos homicídios do ano passado foram elucidados? E mais: neste ano de 2012 já são 115 jovens mortos em Itabuna. Quantos suspeitos a polícia tem? A sociedade precisa de uma resposta rápida, governador. Estamos todos assustados.

20/08/2012

As crises e o descrédito

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

O descrédito do eleitorado brasileiro em relação à classe política desceu a um nível tão baixo que as eleições de 2012 já estão sendo vistas como mais um teste para a nossa democracia. A frieza dos eleitores - os das capitais e das pequenas cidades, principalmente - é palpável e motivo de preocupação dos candidatos, que temem uma enxurrada de votos brancos e nulos. Até mesmo políticos tradicionais, tidos como “bons de votos” estão sentindo a indiferença de seus eleitores.

A desilusão do eleitorado com os políticos é justificado até um certo ponto, e se deve, em parte, as crises que abalam a nação: a crise moral e, agora, o envolvimento de vereadores de Itabuna, acusados de envolvimento em corrupção.A opinião pública – particularmente a faixa menos informada e politizada - atribui grande parte dessas crises aos políticos, indistintamente, nivelando-os por baixo.É verdade que os maus políticos espalhados por todo o Brasil têm sido os grandes responsáveis por esse descrédito.Políticos que impunemente se confessam corruptos, sonegadores, lobistas etc e freqüentam noticiário policial dos jornais não são, certamente, exemplos de homens públicos e nem estimulam o eleitor a comparecer às urnas.

Apesar de tudo isso, a generalização é injusta.Temos que acreditar que ainda existem muitos homens e mulheres bem intencionados na política brasileira, alguns começando agora pelo caminho da veerança. E é justamente pelo voto e não pela omissão, como pregam muitos dos desiludidos – que os maus políticos serão expurgados da vida pública.

Estamos a quarenta e oito dias das eleições. Há tempo para que os eleitores que pretendem se abster ou anular seu voto se conscientizem da gravidade de outra opção que não seja a do voto direto, claro, limpo – representativo do direito de votar que a Constituição lhe assegura.Fora disso, o eleitor faltoso estará abdicando do seu direito de reclamar e do seu direito de ter direitos.

Com a oportunidade da reeleição nos dada através da Legislação, cria-se a oportunidade da manutenção, dos administradores que de fato bem administram o patrimônio público, que tem compromisso com sua comunidade, em fim que sabem gerir o dinheiro do povo em seu próprio benefício, e excluir de vez àqueles que abusam da confiança recebida para em causa própria, aumentando a miséria e as desigualdades sociais.

Atenção, eleitor! - Itabuna vai para uma nova eleição onde os riscos de prevalecer o continuísmo são eminentes, e muitas as possibilidades dos predadores retornarem às antigas funções ou elejam seus cães de guarda para permanecerem controlando pela guia o território de domínio. Nem por isso podemos deixar morrer a esperança do rejuvenescimento das pessoas e do modelo de se fazer política, apostando nos jovens que entendemos probos capazes de uma virada espetacular. Basta de retrocesso! O passado que nos fez infelizes temos que jogar no lixo e atear fogo para não deixar vivo o risco da volta. É hora de o eleitor abandonar o vício de acreditar nas mentiras e promessas ilusórias de candidatos inescrupulosos. Largar o vício de vender o seu voto, afinal é criminoso quem compra e quem negocia a sua consciência. Político que compra voto não tem compromisso com o “tolo” do eleitor. Desprezar o vício de achar guardião para o seu título, o vício de eleger viróticos que disseminam pobreza e injustiça social neste Município semianalfabeto onde o povo não valoriza a qualidade do voto.

(*) PAULO CAMINHA é jornalista e doutor em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é repórter correspondente e professor de Língua Estrangeira.

E-mail:paulo_caminha1@yahoo.com.br

A falta de ética na imprensa

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

Os exageros de determinados órgãos de Imprensa e fartamente aplicados em períodos eleitorais constituem muitas vezes crimes definitivos, porque passado o episódio eleitoral, a vítima de campanhas muitas vezes sórdidas e pessoais, poderá receber qualquer tipo de reparo, menos o dano irreparável da derrota. No Brasil, logo após o regime militar, mais ainda sob a égide da Constituição de 1967, sem os Atos Institucionais que a desfiguraram foram utilizadas largamente, como uma espécie de "porre de liberdade", não sendo um fenômeno brasileiro.Na verdade isso ocorreu em todos os países no primeiro instante após longos anos de governos arbitrários, como por exemplo, em Portugal, na "revolução dos Cravos" de 1973.

No entanto, com o advento da Constituição de 1988, com as eleições gerais de 1989, o que se assistiu foi o açodamento mais isolado, aqui ou ali,mas a nossa "ressaca" nem chegou a incomodar, pois logo o episódio que levou o presidente Collor de Mello à renúncia, mesmo assim transformada em impeachment pelo Senado, deu demonstrações inequívocas de que a Imprensa sabe cumprir bem o seu papel.Não foi a campanha de um jornal ou de uma revista que derrubou o jovem presidente: foi a liberdade de Imprensa que repercutiu denúncias que partiram de seu próprio irmão.Collor deve à mídia, principalmente à eletrônica, sua eleição em 89, e na contrapartida, a Imprensa nada deve à Collor por haver acompanhado cada passo do rumoroso escândalo que envolveu PC Farias e que culminou com sua queda. E tudo na mais absoluta ordem, sem tentativas golpistas, e até sem o sensacionalismo comum aos grandes eventos desta natureza.Curiosamente, o suicídio de Getúlio Vargas e a renúncia de Jânio Quadros ocorreram exatamente em períodos de liberdade de Imprensa.Getúlio sucumbiu diante do "mar de lama", e Jânio com sua renúncia, praticamente abriu caminho para a revolução de março de 64, porque os militares não aceitavam Jango Gulart.

No entanto,poucos se aperceberam que não tivemos revoluções sangrentas em 1954 ou 10 anos depois, porque o Brasil se comunicava precariamente à distância, por telefone por rádio, com uma televisão ainda elitizada.Ainda assim,é de se louvar os grandes jornais como O Globo, Jornal do Brasil, Correio da Manhã. O Estado de São Paulo, A Folha de S. Paulo e os Diários Associados, que cumpriram o papel fundamental da Imprensa que é primeiro o de informar seus leitores.Não que não tivessem exercido suas opiniões em Editoriais, que não tenham tomado partido em favor de uma situação ou outra, mas quando o fizeram, não recorreram à fotomontagens, a expedientes mesquinhos como infelizmente, muitos ainda hoje insistem em utilizar como meio de atingir interesses escusos ou vantagens subalternos.

Passado o tempo, sempre somos lembrados que a Imprensa é o quarto Poder.Por que se dá esta importância à Imprensa? Porque cabe a ela enquanto Instituição, ser a sentinela isenta do cidadão, e por conseguinte, a salvaguarda democrática definida e perene do pleno exercício de cidadania.

Estamos vivendo os novos tempos da globalização, que tem passagem obrigatória pelos meios de Comunicação. A Ética, palavra usada tão costumeiramente por todos, tem origem no comportamento, e em qualquer atividade humana.Assim como, forma o binômio ética-postura, esta última tratando da retidão.Sempre que um órgão de comunicação, qualquer que seja a sua importância perante um determinado público, e por menor que seja esse público, foge de sua função social, promove "guerrilha" cultural e desinformação.O perigo que daí decorre, é inimaginável.

Cabe à mídia eletrônica, pela forma massificante de penetração no chamado inconsciente coletivo, se ater tanto à ética quanto à postura.Novamente nos deparamos com o chamado risco de dano irreparável: pela rotatividade da audiência, quando retificada a notícia falsa ou mentirosa, ela já formou juízo de valor em quem ouviu, ou em quem ouviu e viu.Não é diferente na mídia impressa, seja revista, um jornal de grande circulação ou um jornal ou revista dirigida.Nesses casos é ainda pior, porque permite o uso e o abuso das campanhas difamatórias e pessoais, as quais mesmo depois de levadas aos tribunais, podem ressarcir materialmente se o dano for material, mas jamais podem recompor a moral ultrajada dos acusados injusta, ou mentirosamente.

Não cometer esses erros e não fugir dos princípios sadios de bem informar, é uma conduta que faz parte integrante da história de muitos jornais e blogs.No entanto, antes, é essencialmente o cumprimento da obrigação perante o público leitor.Esta Imprensa ética, é fundamental para a consolidação do estado de Direito e da própria Democracia no Brasil.Imprensa e Ética são indissociáveis.Não há como separá-las sem graves danos sociais e culturais.

(*) PAULO CAMINHA é jornalista e doutor em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é repórter correspondente e professor universitário.

E-mail:paulo_caminha1@yahoo.com.br

16/08/2012

Salvem o rio Cachoeira

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

Não olho o rio Cachoeira sem que me bata uma tristeza medonha. Dói-me vê-lo morrendo aos poucos e muitos, sob as vistas da edilidade, que não se voluntária a salvá-lo. Nada se faz neste sentido, nem se pensa, pelo menos. A pensar que o mundo está condenado à morte pela falta de água, daqui a décadas. Sem ter como dar jeito, que nada sou nos naipes do baralho municipal, sofro a morte do rio Cachoeira.

Cedo da manhã da última quarta-feira, indo para Ilhéus, tive mais uma ocasião de olhar, com olhos tristes, o rio Cachoeira na podridão de sua agonia, ainda roubado de suas margens pela construção civil consentida. E perguntava-me, em silêncio - Não há câmara municipal nesta cidade? Ou, então, para que tem servido? Quanto mais não seja, o rio Cachoeira é um patrimônio natural da nossa cidade.

E entrei a pensar coisas. Além de luxo ornamental, privilégio de poucas cidades do sul da Bahia, bem poderia o rio Cachoeira prestar à cidade de Itabuna uma grande contribuição social. E notem que falo aqui do seu aproveitamento, não só na produção de peixes, como também na produção, às suas margens, de verduras, legumes e frutas, sob a responsabilidade do governo municipal, com postos de venda nos diferentes bairros.

Nada de finalidade lucrativa - senão a de abastecer de alimentos as populações mais pobres. Fica claro que, aí, não entraria a figura do atravessador. Nesse propósito, seria feito um contrato com as prefeituras dos municípios atravessados pelo rio Cachoeira, a que não poderia faltar, naturalmente, o auxílio, técnico e financeiro, do governo do estado. A melhor forma de resolver-se o problema da fome. Estou certo?

Mas qual. Assiste-se, com total indiferença, à morte do rio Cachoeira, feito despejo de esgotos. Não acabo de entender. O rio Cachoeira, se fosse isto uma injúria à cidade, nem sequer tem lugar nos planos de governo dos candidatos a prefeito, e não é de agora. Sim, vai aqui, se me permitem, modesta sugestão aos futuros candidatos, na próxima eleição. Mas que seja um compromisso firme - nada de eleitoreiro.

(*) PAULO CAMINHA é jornalista e doutor em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é repórter correspondente e professor de Língua Estrangeira.

E-mail:paulo_caminha1@yahoo.com.br

24/07/2012

Caso Clébia: Viva ou morta?

A estudante Clébia Lisboa, 32 anos, residente na cidade de Itabuna, continua desaparecida desde o dia 30 de dezembro de 2011. As buscas pela estudante estão intensas, tanto através da polícia do município quanto pelos familiares. No entanto, apesar de todos os esforços, até hoje ainda não há pistas sobre o paradeiro da universitária.

Todos nós da imprensa estamos empenhados em localizar, mediante notas informativas, a jovem Clébia Lisboa, 32 anos de idade, residente em Itabuna, e que está desaparecida após sair de casa para ir comprar verduras. Vamos localizar essa jovem e ajudar a sua família a se ver livre desse drama.

Contato - Quem tiver informações sobre Clébia pode entrar em contato com o pai da jovem, senhor Crispim, pelo telefone (73) 9953-5223, ou com Alane Nery (8838-3272) e Isabela Marina (8823-5494).

19/07/2012

A falha social não justifica a impunidade

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

Enquanto discutimos a origem da criminalidade (se ela nasce da falta de investimentos em educação, nas migrações desordenadas e responsáveis pela desorganizada concentração urbana, ou na falta de políticas sociais mais conseqüentes) a escalada da violência assume proporções de guerra civil não declarada. Ninguém fala, mas não há razões estratégicas para a divulgação dos dados. O certo é que pelo menos 2 pessoas são assassinadas diariamente em Itabuna.Os assaltos fazem parte da rotina, como se fosse um componente indissociável da cidade grande ou média, com o crime obrigatório e de difícil combate.Vale para todos nós: ou fomos assaltados ou seremos.

O Brasil precisa resolver urgentemente duas questões.A primeira é a social, que depende de projetos estruturais de curto, médio e longo prazos, passando pela base que é muito menos do que uma reforma, uma política agrária que fixe o homem que ainda está no campo e incentive aquele que saiu dele para retornar.Aí precisamos passar por governos com vontade política de investir maciçamente na Educação (com ênfase para o ensino profissionalizante).A questão seguinte, é mais urgente e muito mais premente.Trata-se da impunidade, esse autêntico salvo-conduto com que os criminosos de todas as espécies contam para continuar praticando o crime.É o resultado de um intrincado conjunto de leis, de falta de instrumental técnico adequado para o Poder Judiciário fazer os processos andarem ao tempo e à necessidade da sociedade.

Vamos cotejar alguns números: as policias Civil e Militar contam com um efetivo de aproximadamente 1000 homens na Região. Se esse número fosse só para atender Itabuna, representaria 10% da população. Quantos ladrões de esquina, assaltantes perigosos, chefes de quadrilhas de seqüestros, de assaltos a bancos estão soltos só no Estado da Bahia? Se chegarmos a 5%, são 500 homens armados, perigosos e prontos para matar, solto e, muitos deles, velhos fregueses da polícia, pois entram e saem por benefícios concedidos pela Justiça.Ou pior: em fugas cada vez espetaculares e rotineiras para a própria administração de penitenciárias e presídios.Eles, soltos e audazes.Nós, presos pelo medo e cada vez mais sonhando em sair de uma cidade na qual o roteiro casa-trabalho ou escola é uma incerteza permanente: saímos, mas não sabemos se voltamos!

Os especialistas não têm dúvidas em afirmar que o narcotráfico é o principal vetor da violência urbana. O dinheiro fácil, que rola nos negócios de drogas, não faz apenas os pobres ou mais humildes reféns. Faz sim, a juventude de classe média e muitos desses jovens não são apenas viciados, acabam entrando para o ramo do tráfico e também descambam para o crime.Então o governo federal, que lançou estardalhaço um Plano Nacional de Desarmamento (com resultados tímidos até este momento), tem de repassar recursos para os estados para a construção de penitenciárias de porte razoável, de presídios seguros (é balela esta história de segurança máxima), e, principalmente, injetar recursos no Poder Judiciário Federal.

Se qualquer cidadão procurar se informar o quanto é demorado obter uma solução judicial para uma pendência corriqueira, basta ir a qualquer cartório de tribunal civil ou criminal e verificará que tudo é demorado. Precisamos de mais varas criminais e cíveis, de mais juízes, mais promotores de Justiça, mais escrivães de cartórios judiciais, de mais oficiais de Justiça, e de equipamentos para agilizar o andamento dos processos. A libertação do fazendeiro Marcos Gomes é um capítulo à parte, apesar de sua flagrante inserção nessa longa “novela” de impunidade que prospera no Brasil. Ao conseguir sua liberação para cumprir prisão domiciliar, seus advogados apenas se ativeram ao que está escrito na lei. Aí, é o caso de se perguntar: então, por que não se reforma a lei? Essa responsabilidade é do Congresso Nacional. Longe de se defender como pena máxima, a pena de morte! O que precisamos defender, sim, é a punição justa, ainda que mínima.E para pôr fim a impunidade, só investindo em pessoal.Na hora em que o criminoso for condenado com o rigor da lei pelo crime que cometeu, deixaremos de usar a pobreza como justificativa para o aumento da criminalidade.E, então, poderemos cuidar efetivamente da parte social.

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é doutor em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-(ECA/USP). Paulo Caminha é jornalista profissional desde 1980, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV). Atualmente, é professor universitário e jornalista correspondente do jornal americano The New York Times.

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

13/07/2012

O fim da impunidade

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

Demóstenes Torres é o segundo Senador a ser cassado no Brasil, o primeiro foi Luiz Estevão, José Roberto Arruda e Antônio Carlos Magalhães renunciaram, e Jader Barbalho foi praticamente obrigado a se afastar da Presidência do Senado. Em pouco mais de 12 anos, o Congresso viveu situações que nunca poderia imaginar em toda sua história. Afinal, o que está acontecendo com o Congresso Nacional? Nada demais. Apenas a democracia sendo exercida com transparência e visibilidade. Claro que existe o jogo político, os interesses desse ou daquele grupo, mas o que realmente importa é que, independentemente de jogos ou interesses, a democracia está sendo exercida.E a população está se tornando consciente que os poderosos senadores, até então intocáveis, estão agora respondendo por seus atos como qualquer cidadão.A lição que fica é simples, mas fundamental: a sociedade não aceita mais a impunidade.Agora, só falta acabar com a imunidade.

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-(ECA/USP). Atualmente, é professor de Língua Estrangeira e jornalista correspondente do jornal americano The New York Times.

E-mail:paulo_caminha1@yahoo.com.br

29/06/2012

Quarto de Hotel

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista Correspondente

Estou em São Paulo. Em São Bernardo do Campo para ser mais preciso. Terminei o trabalho para qual fui designado e, agora, estou recolhido num quarto de hotel. É um hotel confortável, um dos melhores da cidade, escolhido com a doce irresponsabilidade de quem tem a despesa custeada pela empresa.

Tomo um banho demorado, usufruindo a gostosa ducha que esguicha com força sua água sobre o meu rosto cansado. Foi um dia cansativo, compensado somente pelo prazer proporcionado pela minha décima viagem de avião.

Visitei obras, entrevistei engenheiros, recebi um calhamaço de informações técnicas e suei a camisa ao passar por reatores monstros, verificando comportas e uma infinidade de lugares, conhecidos, até então, somente por fotografias e textos de revistas especializadas. Era uma usina hidrelétrica e alvo de minha história.

Agora, porém, encerradas as reportagens do dia, estou recolhido para o devido descanso.Depois de um banho, passeio pelo quarto buscando intimidade com os móveis e objetos que farão parte do meu cenário noturno.

E não identifico nada que me prenda a atenção. Olho pela janela aberta e aprecio o movimento, lá embaixo, com desinteresse.

Uma grande massa de seres humanos desconhecidos caminha em direções diversas em busca de seus destinos. E sinto o tédio dos retirantes que deixaram seu lugar de origem em busca de uma vida melhor.Não é o meu caso, evidentemente, pois, em breve, estarei de volta à casa, após o trabalho cumprido.Mas a solidão persiste.E nem o luxo que me cerca preenche o vazio que me deprime.

Busco nos fantasmas do passado o conforto para minha angústia, mas as imagens me fogem. É como se eles, assim como os familiares e amigos vivos, tivessem ficado em minha terra distante. Covardes! Suas ausências não se justificam já que não precisam dos vivos para se locomover.

Lembro paixões doentias, mulheres maravilhosas que fizeram de minha vida este amontoado de sentimentos que me faz transcrever para o papel minhas emoções.

Mas elas também me fogem à memória, escapam como água entre os dedos e descem pelo ralo da distância, projetando-se no fosso do esquecimento.

Sozinho, sem ninguém com quem trocar palavras, cercado por pessoas estranhas, sinto-me perdido, desorientado. Saíra de Itabuna aborrecido por pequenos problemas e não via a hora de estar só com meus pensamentos.Estava fugindo, por isso aceitei com satisfação a tarefa de cumprir um trabalho fora do Estado da Bahia.

Agora, entretanto, cercado de carpetes, lustres e mobílias de luxo, estirado nos lençóis de seda desta cama macia desfilando minha nudez pelo quarto vazio de esperança, percebo a importância das pessoas que fazem parte de meu dia-a-dia, e como estava perto da felicidade que, tantas vezes, busquei nos inúmeros painéis luminosos que sempre povoaram minhas fantasias.

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-(ECA/USP). Paulo Caminha é jornalista profissional desde 1980, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV). Atualmente, é professor universitário e jornalista correspondente do jornal americano The New York Times.

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

26/06/2012

Quando o retorno à ética é necessário

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

Assiste a um grotesco espetáculo na mídia, no falso brilhante das denúncias à desenfreada corrupção, que maltrata a sociedade brasileira.Isso ocorre diariamente, numa repetição que enfadonha, pois, a gente comum, que precisa e quer resultados, não mais crer em política e, menos, na Justiça.As conseqüências desse comportamento, da maioria dos cidadãos, põe em dúvida o regime democrático.O que vale ser honesto neste país? O que vale pagar impostos? O que vale ser participante? As respostas dadas são as mesmas, pois os cidadãos sentem na carne a insensibilidade, o cinismo a hipocrisia a justificar o atual estado de coisas que vivemos.Será que vivemos?

O afastamento de alguns poucos vereadores da Câmara de Itabuna poderá ser um bom indício de que o país começa a tomar jeito, combatendo a corrupção e punindo seus autores.Mas, sempre o mas, é que não dá para acreditar na sinceridade da maioria esmagadoras dos parlamentares. Razões: continuam eles a ter (duodécimo) à custa do povo incompatíveis com a realidade brasileira: permanecem com dezenas de assessores para coisa nenhuma: influenciam na tomada de decisões das aplicações das verbas: mantêm, indecorosamente, veículo com motorista de cargo dos contribuintes e tantas outras coisas mais.

A indiferença, sintoma grave, dos jovens à política, aos políticos e à busca de soluções para os problemas da comunidade e do país, deve ser, com urgência, revertida.Aos jovens, o crédito do ideal e a construção de utopias; o sonho ainda vive e o amor, pelo Dom de ser amado com intensidade.

Só um verdadeiro “desvio padrão” do comportamento dos políticos, que refletem o poder, para valores imanentes ao homem (honra, dignidade, sinceridade, patriotismo, lealdade) se começará a reconstruir o Brasil, tão almejado.

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-(ECA/USP). Paulo Caminha é jornalista profissional desde 1980, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV). Atualmente, é professor de Língua Estrangeira e jornalista correspondente do jornal americano The New York Times.

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

25/06/2012

A árvore da minha infância

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

Uma das coisas mais antigas do mundo são as árvores e, se a gente parasse um pouco para observá-las, poderia descobrir o quanto uma árvore pode torna-se importante em nossa vida e até mesmo nossa miga.

Eu, quando criança, morava numa pequena cidade do interior e em nossa casa havia um pomar com algumas árvores frutíferas, dentre as quais eu escolhi uma de minha preferência.Era uma figueira frondosa e que todos os anos dava muitos frutos.Essa figueira foi minha companheira durante a minha infância e também da minha adolescência.Ela cresceu junto comigo.No princípio havia dois galhos grossos e cheios de folhas, os demais eram galhinhos, definidos ainda que confusamente, com o propósito de tornar-se um dia também grandes troncos.

Foi sob os galhos dessa árvore, gozando às delícias de sua sombra, que eu decorei a tabuada, o livrinho de catequese, os verbos da primeira, segunda e terceira conjugação e os pontos de geografia e história do Brasil. Era à sombra também que eu passava momentos deliciosos brincando de índio e jogando flechas.Era no topo dos seus galhos fortes que eu subia a fim de avistar o meu pai quando voltava do trabalho tardinha, para poder encontrá-lo.

Era em baixo da boa figueira que ia chorar quando levava uns tabefes por ter realizado alguma travessura.Parecia haver algo magnífico naquelas folhas tão verdes, que fazia esquecer o motivo pelo qual eu fora parar ali.

Além de desfrutar da sua sombra espessa e agradável e de seus saborosos frutos, eu também a fazia de minha confidente.Sobre os mais variados assuntos eu conversava com ela; parecia que ela me escutava e entendia e então eu saía dali calmo e aliviado como se saísse de um confessionário.Quando a brisa soprava muito forte eu gostava de ver os seus galhos balançarem como num passo de dança reproduzindo uma melodia branda, como se cada um de seus ramos soasse uma música suave em harmonia com o vento.Quando eu sentia a necessidade de fugir do mundo em busca de um sonho, era em baixo da minha figueira que eu me refugiava a fim de poder isolar-me e sonhar à vontade.

Foi ali, àquela sombra, que eu comecei a pensar numa profissão, num curso superior, e como fazer para alcançá-los.

Muitas outras árvores do nosso pomar foram derrubadas, mas a minha velha figueira, apesar de ser considerada já inúltil para dar sombra e frutos, continua lá, intacta.Hoje já não é mais aquela árvore frondosa e bela de antigamente.Seus galhos são somente troncos secos.Suas folhas, já nenhuma mais existe, mas mesmo assim não deixei que ela sofresse os golpes alucinados de um machado.

Os anos foram passando e me tornei adulto.Por exigências da vida fui obrigado a mudar-me e deixar, naquela pequena cidade do interior, a minha fiel e boa amiga.Hoje, quando volto lá, a passeio, gosto de olhar e tocar nos velhos galhos secos, sem folhas nem frutos, como tudo o que um dia envelhece e perde o brilho.Contemplando aquele esqueleto de árvore eu recordo com saudade dos doces momentos que passamos juntos e sinto que, enquanto ele estiver de pé, uma parte de minha infância ainda vive.

Quem me dera hoje eu pudesse cultivar em meu quarto uma árvore como aquela para ofertar à minha solidão.

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-(ECA/USP). Paulo Caminha é jornalista profissional desde 1980, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV). Atualmente, é professor de Língua Estrangeira e jornalista correspondente do jornal americano The New York Times.

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

A fábula

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista e Escritor

Encontrei-a pelo caminho e nem buscando estava. Encontrei-a num desses acasos da vida, numa dessas coincidências que, à primeira vista, são agradáveis.E me deixei embevecer.Mas, deixei-me enfeitiçar por um canto de sereia, por um olhar magnético, hipnotizante, penetrante e sedutor.Estava carente e aquiesci-me às insinuações.

Encontrei-a pelo caminho. Ou era um atalho? Não importa. Encontrei-a. Sorrimo-nos tão próximos que a invasão de um desejo comum para beber-nos num mesmo beijo foi natural. A surpresa pelo inusitado e a timidez óbvia pela aproximação inesperada, reprimiu-nos daquilo que mais tarde se constituiria no primeiro arrependimento. Não houve o primeiro beijo.Esse, perdeu-se naquela indecisão, naquele medo festivo, num sorriso acanhado, com os que se descobrem na coincidência do furto comum da mesma rosa num jardim que a nenhum dos dois pertence.Foi assim... nem mais, nem menos.

Lembro-me que endeusei-a.A cada êxtase pela maravilha do espetáculo ante a divindade de cada nudez, a ilusão de uma dádiva dos céus. Tê-la nos braços para o amor era o sonho, a ilusão, a miragem do beduíno das mesmas caminhadas pelos desertos tantas vezes cantando e relembrando na mesmice cansativa do poeta. Era fantástico vê-la no meu regaço, farta, num aconchego que me comovia. Fi-la deusa e ajoelhei-me aos seus pés para orar em silêncio, dizendo minhas preces de homem apaixonado. Paixão...Falam de paixão como coisa superada, arcaica, velha, ultrapassada.Valham-me as acusações ou julgamentos! Que se danem os frios e vazios. Aqueles que se banqueteiam apenas na carne vendida ou oferecida das Mulheres de Atenas que campeiam pelo mundo do desamor. Gosto de chegar na certeza de uma saudade que me aguarda ansiosa, que me sorri, que me abre braços e lábios para as boas-vindas do andarilho do dia-a-dia.Gosto das rusgas pequenas porque elas são a ante-sala das reconciliações com sabor de novidade, de perdão, de mais paixão, como se o poeta redescobrisse o amor em cada rima que vai encontrando fácil nas querelas superadas do casal.Era assim, exatamente assim que eu pensava e assim vivia.Assumo.No dia em que não existir mais paixão dentro de mim, meu corpo jazerá inerte porque nele não haverá mais nenhum sopro de vida.Romântico... Sim, sou romântico e é por isso que ainda acredito nas estrelas e na magia do luar. Acredito nas estórias que contam os ventos rasteiros que sopram de madrugada, fazendo companhia ao homem que caminha perdido em seus pensamentos solitários.Mas me acredito um último romântico mas, se fosse, sê-lo-ia com orgulho porque é o romantismo que ainda me deixa acreditar na última esperança do mundo: o ser humano!

Romântico, levei-lhe flores. Apaixonado, compus-lhe versos e escrevi-lhes odes. Construir-lhe um pedestal e preguei sua imortalidade valendo-se da imortalidade do amor.

Depois de tudo, depois de tanto descobri que, ao contrário da fábula do Esopo, tive as uvas nas mãos. Eram realmente muito bonitas e era uvas. A diferença estava dentro, por isso, enganavam na sua aparência – as uvas estavam podres, mas não envenenaram nem acabaram o romântico e o apaixonado que o poeta teima em não deixar morrer de vez...

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Jornalista profissional desde 1980, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV), nas funções de repórter. Atualmente, é jornalista correspondente e professor de Língua Estrangeira.

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

A estrada é longa

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista e Escritor

A estrada é longa e silenciosa. Tenho medo.Não das sombras, nem dos fantasmas que espreitam nas curvas.O tempo não é muito, mas é o bastante para aumentar a minha angústia.Tenho pressa, mas aguardar é o que me sobra.A distância pode ser grande na geografia, mas o sentimento é vizinho.Nem longe nem perto mas é a ausência física que, neste momento me sufoca, me consome, me alucina.Minhas mãos tateiam no escuro e vão tocar o nada...Um perfume no ar.Uma recordação mais forte.O sonho é real.Poso vê-a, posso senti-la.Abraço-me aos fantasmas da última vez e escuto a voz que se ficou numa confissão sumida da despedida que nunca pedi.Deixei escapar um soluço e o pranto se aproveitar para chorar uma saudade que me pegou desprevenido.Finjo uma segurança e tremo ante as reclamações que já são muitas de um tempo tão pouco em horas tão curtas.A estrada é longa e silenciosa.Falta-me a coragem para escapar para dentro dos atalhos convidativos que enfeitiçam a minha solidão.O amor que grita por mim me dá força para não escutar o canto das sereias mentirosas.Tudo é tão mágico! Ainda acredito na ilusão de ontem. Apego-me às esperanças da dúvida do manhã com todas as certezas do meu hoje.Amanhã será um novo dia...Tento convencer-me.É preciso.

Havia um soluço na voz na hora do adeus.Havia um desespero no adeus na hora da despedida.Ainda tentei impedi-la com um beijo.Os lábios haviam fugido.Não havia mais corpo para abraçar.Ficou-me um ar pesado, espaço vazio do corpo que se foi. “Amo você” – gritei. “Preciso ir... – disse sem se voltar.O apito do trem traduziu meu grito na curva.Ficou a fumaça indecisa, assumindo formas, desfazendo-se lenta, até sumir, como sumiu o trem, como sumiu a felicidade passageira que chegou apressada e tomou seu caminho, no trem, depois da curva, atrás da montanha, onde mora a esperança, numa casinha branca, onde mora o amor daqueles que ainda se apaixonam...

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP).

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

21/06/2012

Jornalista lança seu segundo livro de crônicas em São Paulo

VERA LÚCIA (*)
Da Redação

O jornalista Paulo Caminha lança, no dia 31 de dezembro, a sua mais recente obra literária intitulada “Ah, se o tempo voltasse”, às 20 horas, na Escola de Comunicações e Artes-(ECA/USP), localizada na Cidade Universitária, em São Paulo.

Trata-se de uma coletânea de crônicas inéditas abordando temas relativos ao amor. O livro tem apresentação do mestre do jornalismo no Estado de São Paulo, o Carlos Acuio, e o prefácio de Arlindo Nóbrega, outro mestre do nosso jornalismo. Muito do correto, Caminha, e sucesso então.

13/06/2012

O dilema: investir em presídios ou escolas?

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

As pequenas cidades no Estado da Bahia vivem uma autêntica “guerra”, travada entre a sociedade indefesa e uma bandidagem a cada dia mais violenta e ousada. Escondidas no meio das multidões, ladrões, assaltantes e assassinos subjugam a coletividade composta por pessoas de bem, honestas e trabalhadoras, e muitas delas vivendo o drama do desemprego ou de atividades informais. Imaginemos uma guerra convencional, entre dois ou mais países, nessas continuadas e intermináveis batalhas entre israelenses e palestinos. Como se pode concluir que uma das partes sairá vencedora? O que é vencer uma guerra? É herdar uma quantidade enorme de feridos, de prisioneiros, que acabarão por consumir muito dinheiro do suposto “vencedor”.

Talvez, ao fazer esta conta, tiranos preferem matar aos vencidos, resolvendo pelo caminho da cruel da matança injustificada e indiscriminada, a questão de reduzir gastos com os altos custos falsa “vitória”. Pois a guerra urbana igualmente coloca o administrador público, e com ênfase, as autoridades judiciárias e policiais no mesmo dilema: não se pode eliminar uma pessoa porque ela descumpriu a lei, nem mesmo a pena de morte poderia ser adotada como “remédio” coletivo, porque o efeito drástico de sua aplicação irreparável.

Longe de se colocar entre o “carrasco” que deseja matar a todos que transgridem as leis e as convenções sociais da civilização moderna, e o “samaritano ingênuo”, que considera que a criminalidade se combate somente com palestras, palavras e sermões, o dilema efetivo de governantes de hoje e de amanhã é decidir como tornar compatíveis investimentos públicos que consigam atender à infeliz e crescente demanda de unidades prisionais, e outros de melhor resultado, que é na Educação, sem esbarrar na divisão, e na escolha errada, que pode se transformar no atalho que leva à demagogia.

Este será certamente o desafio da presidente da República e dos governadores de forma direta, mas tem tudo a ver com a obrigação de deputados federais e senadores, que podem e devem fornecer o instrumental de que necessitam a Justiça e os aparatos policiais civis e militares para a defesa da sociedade civil desarmada e bem-intencionada, de marginais que desprovidos de regras e contando com a impunidade previsível, sofisticam e aperfeiçoam suas ações criminosas e delituosas.

Os números que a mídia tem trabalhado indicam que cada preso custa em média ao Estado da Bahia, R$ 1,5 mil mensal. Isso inclui a “hotelaria” completa, com alimentação, “moradia” e serviços diretos de carcereiros e na segurança dos presídios. Uma criança no primeiro grau da escola, custa R$ 173,00/mês. Está claro que não é o fato de uma criança cursar uma escola que a fará fugir do mundo do crime, e os criminosos não são necessariamente analfabetos.

Então, somente construir escolas não vai acabar com o crime, mas vai amenizar substancialmente o problema da criança de hoje quando ela atingir a maturidade. Na medida em que ela, a criança, recebe uma boa forma educacional, tem meio caminho andado para a busca de seu lugar na vida adulta, tanto no mercado de trabalho, quanto na legítima disputa pela ascensão social.

Alguns especialistas calculam que o déficit de vagas nas prisões do Estado da Bahia gire em torno de 170 mil condenados que deveriam estar cumprindo penas, brandas ou pesadas, injustas (existem penas que poderiam ter alternativas que não o puro e simples confinamento do condenado) e justas. Para tanto, o atual governador pelos módulos considerados como ideais (de 100 presos/ estabelecimentos) precisará construir 200 unidades prisionais! E contratar gente qualificada para esses serviços, além do dispêndio de custeio e manutenção. Se o governador fizer somente isso, não se elege nunca mais, nem para síndico de prédio ou inspetor de quarteirão.

Distante do “tiroteio” (rigorosamente a melhor palavra para definir um texto tão explosivo), e sem engajamento político-partidário, haveremos de concluir que o Governo do Estado tem investido substancialmente na recuperação e na ampliação de unidades prisionais e penitenciárias, mas o resultado parece insignificante, porque as prisões continuam superlotadas. Como não se pode acabar com a criminalidade a não ser pela mão isenta da Justiça, o que precisamos é dotar o Judiciário de leis e alternativas penais de um lado, e de outro, investir o mais que a capacidade de investimentos do Estado permitir, na Educação, desde a primeira infância, na pré-escola, em creches que acolham notadamente a criança de família carente. Conviver com esse número que sugere que a sociedade é perdedora nessa guerra, enquanto vítima da violência e da criminalidade, pressupõe ações governamentais realistas e no mínimo bem planejadas, para que o discurso não transforme o pavor da população em votos subtraídos do medo que o cidadão e a cidadã comuns tem de viver em nossas cidades.

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-(ECA/USP). Jornalista profissional desde 1980, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV), nas funções de repórter. Paulo Caminha é também professor de Língua Estrangeira, estudou como bolsista da Fundação Rotária, do Rotary Club Internacional (EUA).

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

02/06/2012

Dez anos da morte de Tim Lopes

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

A morte cruel e bárbara, do jornalista Tim Lopes, repórter da Rede Globo, que tentava mostrar como funciona o tráfico de drogas no Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, é reveladora de que o narcotráfico desrespeita, desconhece a lei, e banaliza a vida, segundo seus estranhos critérios de quem tem direito à vida, e de quem só tem direito à morte, por tentar interferir em suas atividades criminosas.

É um “código penal” deles, poderosos facínoras que cometeram um crime hediondo contra o jornalista, que teria sido torturado antes de morrer.E traficantes e criminosos que fazem parte desses “exercítos” formados por conta da impunidade que reina no Brasil, prosperam com as imensas e fabulosas somas que o crime fornece a eles, dinheiro sujo que é usado para armamentos, suborno de policiais desonestos, e a “compra do silêncio” que conseguem, mediante agrados para comunidades carentes, ou na base e pura e simples da intimidação, nos locais onde então incrustrados os seus “quartéis-generais”.

No entanto, desta vez, foram longe demais! Não apenas porque mataram um jornalista que pertencia aos quadros da importante Rede Globo de TV: principalmente por haverem desrespeitado a nós, enquanto jornalistas, e a instituição conhecida como Imprensa.Mas grave ainda, é a demonstração de que todos nós cidadãos estamos sujeitos à esta nova forma de violência e de “ditadura” dentro do nosso país: a “ditadura do medo”.E não podemos esquecer que Tim Lopes, um profissional sério e competente e um dos mais festejados nesse pequeno, porém valioso “time” de jornalistas que investigam com audácia e destemor, morreu pela “condenação” à morte por organizações criminosas, sem que a polícia, a Justiça tenham elementos suficientes para a punição exemplar.

Longe de partirmos para a defesa da pena de morte, mais muito perto de nós está a realidade: ou as nossas polícias se preparam devidamente, inclusive com equipamento adequado e pessoal especializado: bem como a Justiça possa passar pela reformulação que conceda aos juízes e magistrados os instrumentos legais para penas mais duras, de duração compatível com o tamanho do delito cometido, e especialmente, que impeçam que criminosos violentos e que causam da nos irreparáveis para suas vítimas e famílias sejam beneficiados por redução de pena, liberdade condicional e outras manifestações, que dão o refresco ao criminoso para que possa imaginar que rapidamente estará de volta às ruas.

Os matadores de Tim Lopes atingiram em cheio ao fundamento de quelquer Democracia, que é o dever da Imprensa de denunciar e informar.A liberdade de expressão é o pressuposto indispensável à qualquer sociedade que se pretenda rotular de livre e democrática, onde a plenitude do Estado de Direito é a mais importante salvaguarda da população.E estamos experimentando na nossa própria carne, vendo escoar pela via da impunidade, o sangue de brasileiros e brasileiras inocentes.É neste clima de indignação que os nossos legisladores, sim, deputados federais e senadores, precisam legislar, dando à Justiça os meios para que volte ao nosso cotidiano a valer o chavão, o bordão simplista, de que o crime não compensa.Sem punição rigorosa, os criminosos vão continuar assaltando, estuprando, violentando e matando, através de suas leis próprias, e desconhecendo o ordenamento da sociedade civil, cujo princípio básico é o de que todos somos iguais perante a lei.Que medo pode tomar conta do criminoso, se ele tem a certeza de que não será punido? Se criminosos, que agem com mais ou menos violência, sabem que podem quando muito passar uma curta temporada na cadeia e depois voltam tranqüilamente às ruas para amedrontar cidadãos incautos e cidadãs indefesas?

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é mestre e doutor em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-(ECA/USP). Paulo Caminha é jornalista profissional desde 1980, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV). Atualmente, é professor de Língua Estrangeira e jornalista correspondente.

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

13/05/2012

Mãe,

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

Hoje eu venho à tua presença com esse ar de culpado para te reverenciar com uma lembrança.Lembrança...Lembrança não está no presente modesto nem naquele requintado.Lembrança sempre esteve nas vezes em que eu vinha buscar aconchego no teu regaço para receber o afago dos teus dedos na minha cabeça descompromissada.Sempre fui teu presente maior e nem me dei conta disso.Foi ontem, mãe, quando reparei nos teus cabelos e compreendi o recado do tempo a dizer com os fios brancos que a idade já é muitas e que uma vida inteira se passou.Quantas vezes, mãe, fui omisso na minha presença e te privei do presente maior:eu! Eu alegre ou triste, a falar das minhas vitórias ou a contar minhas mágoas para chorares comigo ou compreenderes as minhas tristezas.Não tenho jeito para confessar-te a minha culpa porque tens o dom de leres os meus pensamentos.Não caberia pedir-te perdão porque teu perdão é eterno, duradouro, como teu amor e o teu carinho.Ah, mãe, como eu queria ser criança outra vez e outra vez menino vir correndo para os teus braços, para o teu beijo, para o repouso do teu colo! Quantas vezes, noites a fio, velastes pelo o meu sono e pedistes aos céus pela minha saúde! Lembro-me de ti, dedilhando um terço de orações em conversas íntimas com a Virgem Maria, pedindo por mim. Lembro-me da lágrima mais pura e mais sofrida, chorada no primeiro adeus, quando o menino se fez homem e o homem partiu pelo mundo em busca de outros caminhos, de suas próprias aventuras, em direção ao seu destino.Era teu filho, menino travesso de ontem, aprendendo a caminhar sozinho, com ares de dono das verdades e de todas as experiências.Quanta vez, mãe não chamei pelo teu nome sagrado e querido nos sufocos das decepções e nas agonias dos sofrimentos, e era tua imagem o bálsamo maior para as dores que eu sentia.

Vir à tua presença, agora, neste dia, trazendo-te estas flores e esta lembrancinha, é confissão maior da minha omissão. Teu dia, mãe, é todo dia e eu tenho esquecido disso com freqüência.A gente aprende a voar e pensa que pode percorrer todos os espaços de um só fôlego e vai esquecendo de voltar, vez por outra, ao ninho amigo dos primeiros passos, onde sempre ficas a aguardar o nosso retorno sempre bem-vindo.Este versinho eu encontrei entre os papéis velhos do meu pai, teu companheiro de uma vida: “Mãe, o teu nome sublime/Que não tem rima no verso/É a síntese que exprime/ A grandeza do Universo” e com ele eu homenageio às mães de todo mundo: às mães que nunca são lembradas porque seus filhos estão limpando os pára-brisas de carros nos semáforos; às mães da “Praça Camacan”, mundo afora; as mães que choram saudades eternas dos filhos que se foram nessas guerras idiotas; com esse versinho, mãe, eu te rendo a minha homenagem e peço a Deus por ti numa prece acanhada de quem reza pouco.Eu...eu te adoro, mãe!

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é mestre e doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-(USP). Jornalista profissional desde 1980, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV), nas funções de repórter. Atualmente, é repórter correspondente e professor universitário.

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

10/05/2012

Os ídolos e a imprensa

Por Paulo Caminha
Jornalista

Quando Pelé dedicou seu milésimo gol às crianças abandonadas, a imprensa o massacrou: piegas, demagogo.Mas ninguém fez nada pelas crianças, que continuam abandonadas até hoje.Quando o mesmo Pelé afirmou que o povo não sabia votar, foi mais massacrado ainda:facista, alienado.Mas, anos depois, quando o povo elegeu Dilma Rousseff, a mesma imprensa não se conformou: povo de terceiro mundo, como pode eleger uma candidata como essa? Quando Roberto Carlos declarou que não falava de política, veio o massacre:alienado, brega.Mas, hoje, quando Neymar diz que não quer saber de política, pois está no auge de sua profissão e isso atrapalharia a sua carreira, ninguém se importa.Porém, basta ele se recusar e dar uma entrevista para ser massacrado: estrela, mascarado.É, o tempo passa, os valores mudam, mas parte da imprensa continua igual.Exatamente igual.

Nota do Blog: “A cada boa impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre”.

25/03/2012

Viver é participar

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista e Escritor

Transporte coletivo, ensino, lazer, segurança, abastecimento, salário, emprego, ecologia, tarifas de serviços públicos, assistência médica.Mais um ano termina e novamente os velhos costumes permanecem ilesos e inalterados.Será que ainda há salvação para o brasileiro, enquanto consumidor e usuário de serviços públicos e privados?

A resposta tem de ser positiva. Mas, não porque haja perspectivas avanço sensível em termos de qualidade de vida para o nosso povo em nosso País. Ao contrário: sem querer ser pessimista, tudo indica que o ano que começa será ainda mais difícil do que o ano de 2011.Só não vê quem não quer. O Brasil terá, em 2012, um ano muito provavelmente dramático. Somente com muita luta conseguiremos suportar e, quem sabe, superar as dificuldades que nos esperam.

Mas, a melhoria de nossas condições de vida depende, fundamentalmente, de nós mesmos. Se nos acomodarmos, corremos o risco de regredir, em vez de avançar.É preciso que nos mobilizemos cada vez mais em defesa dos nossos interesses.Todos os recursos devem ser utilizados.

Cochicho, queixa, lamúria, não levam a nada.A pressão popular já forçou a criação de organismos oficiais mais diretamente destinados a defesa do consumidor e usuário, como o Procon e Juizado de Pequenas Causas.Mas, eles funcionarão eficientemente se prestigiados, isto é, se procurados, acionados e cobrados.Além deles, existem outros canais por onde se pode conduzir a força da vontade popular.As associações são um desses canais.Mas, há também, as cooperativas, as sociedades, os clubes de serviços, os sindicatos, os partidos políticos.Aquele usuário de serviços públicos ou privados, aquele consumidor, aquele cidadão brasileiro, enfim, que pretenda ver seus direitos respeitados, deve se filiar a um desses canais, pelo menos, ou a todos, se possível.

Principalmente ao último deles, o partido político.Sim. É preciso acabar com esse negócio de só achar que política é uma “coisa suja”. Vamos dar nossa contribuição para “limpá-la”. Ficar de fora, “metendo o pau” em quem está dentro, sabe lá às vezes com que sacrifício, não adianta nada.Vamos também oferecer, em vez de só exigir.Vamos dar a nossa contribuição efetiva para que as coisas melhorem.Por isso, assim que puder, filie-se a um partido, a um sindicato, a um clube de serviço, a uma sociedade, a uma cooperativa.

Filie-se e não limite sua contribuição apenas isso. Milite, efetivamente, oferecendo sugestões e críticas.Lute por seus direitos e pelos diretos dos outros.Viver é lutar.

E o que é lutar, em termos de se buscar uma melhoria dos nossos padrões de vida? É participar cada vez mais da defesa dos interesses da população. Só assim atingiremos o objetivo de tornar nossa sociedade mais humana e fraterna.

Precisamos nos conscientizar de que somos todos responsáveis por isso.Não podemos acreditar que nossos problemas, nossas dificuldades serão resolvidas, por nossos governantes, sejam eles de que partidos forem.

Leis, nós já temos até demais.O que precisamos é de quem as faça cumprir, fazendo valer,assim, nossos direitos por elas garantidos.Mas, que melhor fiscal de nossos direitos, do que nós mesmos?

Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos um transporte coletivo pontual, confortável e seguro.

Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos um ensino gratuito, mas atraente e eficaz.
Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos mais e melhores opções de lazer.

Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos a segurança que não temos, de quem é pago por nós para proporcioná-la e não para nos amedrontar e violentar.

Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos um sistema de abastecimento sem especulação onde os produtos tenham qualidade garantida.

Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos salários compatíveis com nossa capacidade de produção e que nos proporcionem um padrão de vida à altura dessa capacidade.

Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos evitar o fantasma do desemprego, inadmissível presença numa cidade onde ainda há tanto por fazer.

Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos preservar a natureza, da qual somos parte integrante e de cujo equilíbrio precisamos para nossa sobrevivência saudável.

Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos impedir altas abusivas das tarifas de serviços públicos, que, nem por serem públicos, precisam necessariamente, dar prejuízo, mas devem sim, ter o objetivo maior interesse da população e não do lucro.

Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos ter uma assistência média que não veja, no doente, apenas uma fonte de lucro fácil, mas, principalmente, o ser humano necessitado de cura.

Finalmente, só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos fazer, da sociedade itabunense, uma sociedade digna do significado real desta palavra, porque responsável, solidária e, assim alegre.

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é jornalista e Doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Jornalista profissional desde 1975, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV), nas funções de repórter. Atualmente, é jornalista correspondente e professor de Língua Estrangeira.

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

O que é a felicidade?

MILTON HÊNIO (*)
Médico e Escritor

Na estrada da vida não há paradas. Ou você caminha para a frente, isto é, progride, ou caminha para trás, regride. Se você para, a vida continua e deixa-o à margem. Todas as pessoas têm, como objetivo supremo, a conquista da felicidade. O que seja essa felicidade em termos objetivos, como consegui-la, varia de pessoa para pessoa. “O homem – escreveu Marden – foi criado para ser feliz”. Como se explica, pois, que tanta gente viva infeliz? É que na caminhada da vida saíram dos seus limites. Por vários motivos. Santo Agostinho já lembrava em seus sábios ensinamentos que todas as vezes que você sai dos seus limites sua vida se transforma num inferno. No mundo moderno muitas pessoas querem ter o prazer a qualquer custo em todas as áreas, e então se perdem no caminho, tornando-se infelizes. Vejam alguns dados de 2011: o brasileiro consumiu 13 bilhões de litros de cerveja naquele ano; 44 mil adolescentes morreram em acidentes de moto, carros, ônibus, assassinatos e outras causas antinaturais. Cinco milhões de crianças nasceram filhos do “fiquei” e do “ficou”, a maioria de mães adolescentes na faixa dos 13 aos 19 anos. Como serão essas crianças no futuro sem o amor do pai e o aconchego de um lar? Não conviverão com facilidade, com a felicidade. A felicidade é um estado de espírito, um estado da mente. Devemos buscá-la dentro de nós e não fora. Depende do que “somos” e não do que “temos”. A felicidade depende da busca em atingir objetivos, de um sentido de vida. Temos hoje, no Brasil, 30 milhões de depressivos, que por situações adversas perderam o rumo da estrada, mas que lutam com ansiedade para vencer os obstáculos e voltar a ser felizes. E conseguirão, tenho certeza.

Dizem os psicólogos que a felicidade é o momento presente. Pois bem, eu vivi momentos de intensa felicidade no último dia 19, quando, na sala de parto, recebi em meus braços a minha linda netinha Heloisa (homenagem à bisavó). Os outros avós, minha esposa Myrza, Vaninha e Ronaldo, junto aos pais Cacá e Pollyana, choraram de emoção. Felicidade inaudita. Que a minha querida Heloisa, seja como sua bisavó, uma verdadeira mensageira da paz e do amor. E será, com as benção de Deus. E a vida continua. E cada dia é menos um dia em nossa caminhada terrena. Vamos caminhar e cheios de esperança, sempre que o amor envolva nossos sonhos e realidades. Os sonhos às vezes desfolham-se como o vento, mas a esperança fica esperando ter como companhia a felicidade.

22/03/2012

O importante é agora

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista e Escritor

O que impacienta mais é a espera. Os segundos são maçantes. Os minutos lerdos e as horas, nem pensar.Não têm pressa, parecem séculos.Às vezes flagro-me a ruminar esse tempo sem fim, aguardando o momento sagrado de tornar a vê-la.De correr para os braços dela e afogar-me, saciar-me, beber toda a minha sede, matar toda a minha fome.Se existiu um ontem qualquer, por mais importante que tenha sido, por mais importante que tenha se transformado, minha saudade ainda é voraz, grita pela presença dela e não se sossega enquanto seu rosto não vem para a moldura das minhas mãos que, em concha, seguro para beber-lhe em beijos e, de pertinho, fazer-lhe renovadas confissões de amor, que teima em não morrer, em não sucumbir às cobranças da sociedade mentirosa, fingida, superficial e indiferente.Se temos um pranto inteiro para chorar ou desabafos para gritar em confissões que precisam de amizade, que precisam de um ombro companheiro que não cobre nada, que se fique ali, simplesmente amigo, para escutar o que temos a dizer ou para entender o nosso silêncio, a nossa lágrima, nosso grito, essa sociedade inexiste. Faz-se ausente.

Pois bem.A espera me consola.Ligo o gravador e as músicas parecem lentas, tornando mais morosos os minutos do tempo que me separa da chegada dela.E não importa a hora que chegue mas, quando vem, é sempre alvorada.Às vezes já é noite, mas é exatamente aí que começa o meu dia e o meu sol principia a brilhar, enchendo tudo de cores fantásticas, como a primeira manhã de verão.Aí, sim, o tempo tem fome.Passa célere.Os segundos famintos logo se transformam, em minutos e as horas, (quando, existe tempo para horas?) logo se formam e, quando menos espero, já é hora de ir embora e começar outra espera, outra vez...E não me resta outra saída a não ser curtir essa sagrada angústia de aguardar para tê-la, outra vez, nos meus braços, para o aconchego do meu carinho, para a resposta dos meus desejos e o eco das mais solene confissões de homem apaixonado.Queria as flores do mundo, as mais belas, as mais perfumadas e, num buquê, oferta-lhe ou, humildemente, genuflexo aos seus pés, dizer-lhe do meu amor e fazer-lhe crer que não existe mais amor sobrando no mundo com que eu possa amar-lhe mais ainda.É exatamente ali o limite.É o quanto o homem pode amar a uma mulher, aquela com quem sonhou a vida inteira e, depois de tantas caminhadas errantes, de repente, encontrá-la e, sem ligar para os pés exangues, vencer distâncias sobre as areias em brasa do seu destino e atirar-se de corpo e alma, na miragem mais esperada da sua vida.

A espera pode me consumir, apertar meu peito, sufocar meu coração, mas mesmo que as perspectivas de outros amanhãs sejam bem poucas, eu me contento com o hoje, com o agora, com o daqui a pouco porque a vida é feita dia-a-dia, um depois do outro e, para quem já esperou tanto, o importante é agora...

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Jornalista profissional desde 1975, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV), nas funções de repórter. Paulo Caminha é também professor de Língua Estrangeira, estudou como bolsista da Fundação Rotária, do Rotary Club Internacional (EUA).

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

21/03/2012

Momentos de emoção


PAULO CAMINHA (*)
Jornalista e Escritor

Definitivamente, sou um sentimental.E assim como eu, acredito que todos nós somos, na medida exata de nossas variadas emoções.E quando as emoções estão em jogo, mesmo que tenhamos muito o que dizer, compreensivelmente abandonamos a palavra e, aprisionando o gesto, libertamos as lágrimas para apenas ouvir o coração.

É claro que falar de emoção hoje em dia, longe do refúgio das escuras salas de cinema ou das telas estimulantes da televisão, pode soar estranhamente como simples delírio ou poesias.Mas é exatamente disso que eu gostaria de falar: da emoção que sentimos espontaneamente sem o estímulo meloso de filmes e novelas do dia-a-dia.De repente, percebo nosso condicionamento em nos emocionarmos pura e simplesmente com fatos, coisas e situações com os quais apenas nos identificamos artificialmente, sem qualquer tipo de envolvimento real.Falo de emoções simples, capazes de romper todas nossas máscaras e cascas sem deixar marcas de culpas, sentimento de fragilidade ou mesmo de abandono.Falo por exemplo da emoção de um encontro, de uma despedida, de uma simples descoberta ou mesmo de uma leve ousadia.Na verdade dificilmente conseguimos liberar nossos sentimentos, sejam de alegria, tristeza ou mesmo frustrações, sem a ação de uma sugestão coletiva.O medo de nos defrontarmos com nossos medos e fantasmas nos leva invariavelmente a reprimir nossas emoções, esvaziando gritos, risos, e até o próprio coração.

Sou efetivamente um sentimental e não temo em esconder o que sinto em relação às coisas, pessoas, fatos e principalmente em relação à poesia, das lembranças presentes, passadas e até daquelas por sonhar.Condeno o silêncio contemplativo e submisso diante da razão, quando o momento nos exige apenas a emoção. Mesmo porque, conter as palavras, gestos, lágrimas, risos, enfim, todo tipo de sentimento espontâneo implica num risco maior de calarmos definitivamente o coração já não pode mais falar, só nos resta simplesmente viver, sem a certeza de estarmos emocionalmente vivos.

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Jornalista profissional desde 1975, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV), nas funções de repórter. Paulo Caminha é também professor de Língua Estrangeira, estudou como bolsista da Fundação Rotária, do Rotary Club Internacional (EUA).

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

20/03/2012

Amanhã será um novo dia...

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista e Escritor

É bom saber que você existe.Melhor ainda sentir a certeza do amor que nasceu entre nós.É bom saber que você pensa em mim, em silêncio e em silêncio eu me habituo à idéia de amar você.Já nem me importo com as lembranças que curti, sozinho, ruminando cada uma das solidões a que me entreguei quando fracassaram as tentativas e investidas que assumi em busca da ilusão, sim, mas é bom acreditar que ela pode estar ali, logo depois da curva, quando os trens que nos transportam nas fugas, apitam num lamento que cala fundo na alma, cheia de saudade...É bom saber que você existe, que está perto porque está e mais próxima ainda porque os encontros furtivos nos levam ao aconchego conivente das nossas entregas.

Pode ser que hoje não possamos gritar ao mundo a dimensão dos sentimentos que vimos brotar porque plantamos, cada um, na terra fértil da carência, da necessidade e de uma consciência feliz arquitetada pelo destino. Não houve premeditação no primeiro encontro, não houve trama no primeiro olhar nem armadilhas no primeiro abraço, disso temos a certeza.Aconteceu, pronto.Coisas de destino e que pertencem a um passado irreversível, impossível, portanto, de ser modificado.É bom saber que você existe...E se não podemos caminhar pelas madrugadas desses dias que temos medo de ver nascer; se não podemos curtir por inteiro a magia diferente de cada deitar do sol; se ainda não nos é permitido esquecer o tempo e contar estrelas de uma noite inteira, se nos vetam os alvarás hipócritas para que possamos caminhar em liberdade, bebendo cada beijo a que temos direito e unidos por cada abraço que acende nossos desejos comuns, resta-nos o consolo de que, inteligente, como diz a sabedoria...Resta-nos a cumplicidade das escapadas, quando podemos, então, nos apoderar do mundo e do universo, espaços únicos e capazes de comportar a grandeza dos sentimentos que se avolumam dentro de nós.É bom saber que você existe e que o sorriso com que sorria para mim é o verdadeiro, é o desabrochar da felicidade do espírito...Sim, eu te amo, muito... e não me importo com as vezes que já confessei esse sentimento, iludido comigo mesmo, com as minhas fantasias, com os meus sonhos.Só hoje vejo o quanto estive enganado, porque amar...amar, meu amor, deve ser isso que descobrir quando senti imensamente a tua falta, mesmo que o tempo passado tivesse sido apenas de um par de horas, desde o último encontro...É que houve espera, houve expectativa, o que serviu para me dar os parâmetros e imaginar todas as dimensões desse sentimento...Se não te posso mostrar ao mundo e para o mundo dizer que cheguei, finalmente, ao fim da minha busca e de todas as minhas procuras pelo lugar definitivo, posso, por enquanto, adormecer feliz com a certeza de que, ontem adormecestes nos meus braços e porque sei o quanto esperas, hoje, chegar à hora de nos vermos outra vez.Ontem, foi ontem.Hoje é agora e ninguém vai nos roubar esse tempo a que nos permitimos e amanhã...bem, amanhã meu amor, será um novo dia...

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Jornalista profissional desde 1975, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV), nas funções de repórter. Paulo Caminha é também professor de Língua Estrangeira, estudou como bolsista da Fundação Rotária, do Rotary Club Internacional (EUA).

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

18/03/2012

Coisas da Vida

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

De longe parece iguais.Vistas assim, sem profundidade, as estórias são comuns e as situações mergulham desajeitadas aos julgamentos precipitados dos que estão de fora, só curtindo as críticas. E, de longe parecem iguais e, se a gente fala de pessoas reais ou apela para licença a que se permitem os poetas, artistas, sonhadores, criando fantasias com os retalhos de verdade de muitas passagens, aí é que a semelhança se torna maior e alguns poucos se entendiam, misturando, sem autoridade, as pequenas diferenças, importantes para aquele que viveu ou pretendeu viver os momentos que descreveu, numa mesmice injusta.Amor é amor.Aqui, ali, mais além.E assim também é a paixão, o ódio, a violência.E comum e igual uma entrega honesta ou possuem a mesma palidez as aventuras vividas com o interesse.Seja ela qual for.Algumas coisas mudam, é verdade.Mudam em pequenos detalhes mas, na sua essência, são iguais, comuns.

Outro dia mesmo estive partilhando da felicidade de um amigo e, de uma certa forma, vibrava com o sorriso com que ele sorria para o tempo, colocando as mãos atrás da nuca, fitando um ponto imaginário qualquer, imaginando um futuro que ele vem perseguindo com paciência.De repente, seu rosto ilumina-se com a chama branda de uma paixão que está adquirindo a consistência de um amor curtido na espera.Nem mesmo as flores que ele usa para falar dos sentimentos que lhe fustigam o peito por dentro o tornam diferente daquele que só tem palavras.

Muitas vezes sento-me diante de uma folha de papel e vejo as teclas à minha frente.As letrinhas são as mesmas.Tenho consciência da responsabilidade de dar-lhes melhor sentido e aí, rebusco nas minhas fotografias os retalhos de um passado que me pertenceu.Um passado que, numa circunstância qualquer, vivi-o sozinho ou na companhia agradável de uma metade que me completou.Quando as fotografias não me dizem nada, fecho os olhos e apelo para as palavras amigas e doces que me contaram alguma coisa importante, sem me importar quando e faço delas o meu tema, sem a preocupação com a lógica de uma sequência metódica, técnica, catedrática.Valho-me, é verdade às vezes, da metáfora, uma forma acanhada de encompridar o caminho, de dizer acanhado aquilo que sinto.Mesmo aquelas que significaram bem pouco valeram a pena.Transformei-as em lições das quais não me permito a distração mais significante de esquecer.Outras, no entanto, faço questão de não esquecei e aí, apelo para cada um dos muitos momentos que nos foram comuns, marcados pela alegria do encontro que chegou depois da ânsia e da expectativa de uma espera. Não se pode inventar muito sobre o comum nem se pode confundir o comum com o banal ou vulgar, seria injusto.A mesma menina de tranças que tantas vezes esteve nas linhas, nas entrelinhas e até nas minhas páginas em branco, por exemplo, continua viva aqui dentro.Faço questão de não esquecer dela.Outro dia, no meio da semana, passei por ela e no sorriso com que me disse um “ôi” depois de tanta ausência, revivi uma vida inteira, um passado que, assim, sem mais nem menos, passou-me diante dos olhos.Isto é comum, é igual, é corriqueiro, mas não é banal nem vulgar e sobre as coisas pequeninas que faço grandes não posso inventar nem abastecer em demasia os limites e horizontes da fantasia, seja para aumentar o êxtase, seja para tomar mais sofisticada a coordenação das palavras que vou arrancando das teclas, sob pena de tornar-me enfadonho ou transformar a simplicidade de uma paixão, de um retalho de amor, de uma ira repentina ou de um perdão temporário ou eterno numa novela sem fim e sem nexo.

Qualquer dia desses, só para fugir à rotina eu chamo o homemzinho verde para levar-me pelo cosmos e voltar com estórias do universo ou então faço ouvidos de mercador e, sem me importar com o cansaço alheio, continuo a dedilhar meu terço, falando das coisas da vida...

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é doutor em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Jornalista profissional desde 1975, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV). No momento é editor deste Blog e jornalista correspondente.

Jornalista Paulo Caminha lança livro de crônicas em dezembro

CARLOS ACUIO (*)
Da Reportagem

O jornalista Paulo Caminha, editor deste Blog, lança em dezembro, em São Paulo, seu 2º livro. “Ah, se o tempo voltasse". “Não se pode inventar muito sobre o comum como banal ou vulgar, seria injusto”. Este trecho da Crônica Coisas da Vida, do jornalista Paulo Caminha, sintetiza bem a linha mestra do trabalho do autor: fotografar ações e situações cotidianas e transportá-las para um pequeno texto, de cinco ou seis parágrafos e linguagem simples e direta.A reunião desses ligeiros fotogramas do dia a dia está presente em “Ah, se o tempo voltasse...”, seu segundo livro. Algumas crônicas já foram publicadas em jornais e outras ainda permanecem inéditas.

Romântico assumido, Caminha não tem pudores em enveredar pelo lugar-comum e declarar teu amor às pessoas que o atraem.Procura revolver suas lembranças e sentimentos, bem como captar e recriar o trivial contemporâneo, sem a preocupação de construir imagens complexas ou tortuosas.É lógico que, como todo cronista e escritor, sempre adiciona algo de ficção e fantasia aos seus relatos e observações pessoais, pois excitar a sensibilidade, a paixão e a fraqueza supera qualquer preocupação em preservar a fidelidade dos fatos.

Encontros e reencontros, separações e despedidas, novos e antigos amores são temas que frequentemente permeiam a maioria dos textos. O autor, hoje com 58 anos, volta à sua juventude e relembra seus primeiros amores e namoradas, seus desejos e frustrações, e às vezes conta a estória de uma tentativa de retornar e reviver um velho amor, já não tão forte como no início da relação, rompida há 30 anos.Às vezes, prefere a perda da amada – o que atesta efemeridade dos amores – e se consolar com a visão das estrelas, já que essas seriam eternas e não ousaria abandoná-lo jamais.

O tempo é o melhor e o pior conselheiro de Caminha.Ora faz esquecer, ora faz lembrar.Pode tanto curar os corações enfermos, como agravar ainda mais o mal.O autor sabe disso, e procura explorar toda a condição que cerca a situação.No final de tudo, fica uma constatação, implacável, o tempo modifica as pessoas e os sentimentos.Nem sempre para melhor, nem sempre para pior.Mas modifica.

Também a exploração comercial e egoísta dos sentimentos, da afeição natural que existe entre os indivíduos, recebe o olhar crítico do escritor e cronista.Para ele, a maioria das emoções expressadas pelas pessoas ressente-se de naturalidade e espontaneidade.Não brota do fundo de suas almas.Quando isolados os indivíduos evitam se expor, demonstrar o que sentem.As emoções, afirma o autor, assumiriam mais o papel de respostas coletivas às inúmeras sugestões sentimentais que os meios de comunicação, à televisão, o cinema descarrega sobre os seres viventes nas sociedades contemporâneas de consumo industrial.

11/03/2012

Amanhã será um novo dia

PAULO CAMINHA
Jornalista e Escritor

Gosto de você, é definitivo. Não importa que a extensão dessa pretensão seja limitada pela imprevisibilidade das surpresas desagradáveis. Gosto de você, tenho esse direito e é essa a minha vontade, e se a reciprocidade corresponder às confissões que tenho ouvido em sussurros à meia-luz da nossa intimidade, exijo respeito em derredor.Somos humanos e a matéria que corre em nossas veias é igual àquela que alimenta as vidas comuns dos juízes ridículos que nos cobram comportamentos e vomitam o azedume de seus interesses mesquinhos contrariados.Enquanto o calor da tua companhia aquecer a alegria com que nos damos, e os encontros para os quais fugimos apenas com a ânsia de sermos felizes em paz existirem, sentir-me-ei muralha intransponível para a defesa necessária contra a covardia das invejas acres, das armadilhas traiçoeiras que armam os que se acreditam poderosos porque se julgam os donos da verdade e os imperadores das razões.Gosto de você, e isso me torna mais poeta e mais artista, e as minhas rimas não rimam com dúvidas e as imagens são fortes e de cores firmes.Agora sei que os autores de novelas não precisam de muita imaginação para escrever os dramas de suas estórias compridas, ilustrada de muita maldade, matreirice, interesse, falsidade e covardia.Esses dramas fazem parte do cotidiano.Essas estórias se repetem, só que os personagens que atuam não são famosos, não são públicos nem recebem salários polpudos.Atuam de graça, premeditadamente, como nas novelas e não obedecem a um roteiro dirigido mas, ao sabor da diversificação de suas criativas ruindades.Gosto de você e ninguém me impedirá de continuar sonhando, de continuar feliz, embora precise permanecer em vigília constante, sentinela atento contra os ataques das velhas raposas, das hienas e dos lobos que só são valentes na alcatéia.Meu exercício de defesa sou eu e as minhas armas são as razões coerentes dos meus objetivos e dos meus direitos, como ser humano, como gente, como pessoa.Sei ser manso como o cordeiro e seresteiro como os pardais.Sei cantar como a cigarra irresponsável e nunca trabalho menos que a formiga, com a persistência e dedicação de um joão-de-barro.Se ofendido nos meus brios, se usurpado nos meus direitos, se humilhado no meu orgulho, travisto-me de fera ferida e acuado, saberei atirar-me com precisão num bote mortal das serpentes e a minha voz ribombará rouca como o grito dos trovões pelas feridas que os raios e relâmpagos abrem no céu.E é como ser humano que me permito guardar os ódios maiores, alimentar os rancores e negar o meu perdão àqueles só me pediram porque não havia outro caminho, outra alternativa ou porque foram descobertos sem chance de tentar um esconderijo onde ruminar seus fracasso.Sim, este é o meu grito de revolta e haverá de ser o meu brado de vitória.Não desistirei da minha luta porque ela também é a luta de muitos que não podem gritar, ou não sabem, ou não querem por conveniência ou medo.Não desistirei da minha luta contra essas normas comportamentais idiotas, contra esses preconceitos loucos, contra essas falsas razões.Deus é único, tenha lá a forma que tiver o nome que tenha.Se existir, mesmo, é superior e não restringe, não delimita, não coloca obstáculos, prega a paz e o amor, a união entre as criaturas e a fraternidade entre os que criou à sua imagem e semelhança.Grito hoje e agora porque ainda tenho força nos braços e enxergo longe.Continuarei lutando enquanto houver uma razão porque a minha certeza é hoje, agora pois amanhã...bem, amanhã será um novo dia...

Nota do Autor: Dedico essa crônica aos que, alheios à sua vontade, são a parte mais fraca dessas novelas diárias no drama interminável da vida que continua...

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-(ECA/USP). Jornalista profissional desde 1975, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV).