11/03/2012

Amanhã será um novo dia

PAULO CAMINHA
Jornalista e Escritor

Gosto de você, é definitivo. Não importa que a extensão dessa pretensão seja limitada pela imprevisibilidade das surpresas desagradáveis. Gosto de você, tenho esse direito e é essa a minha vontade, e se a reciprocidade corresponder às confissões que tenho ouvido em sussurros à meia-luz da nossa intimidade, exijo respeito em derredor.Somos humanos e a matéria que corre em nossas veias é igual àquela que alimenta as vidas comuns dos juízes ridículos que nos cobram comportamentos e vomitam o azedume de seus interesses mesquinhos contrariados.Enquanto o calor da tua companhia aquecer a alegria com que nos damos, e os encontros para os quais fugimos apenas com a ânsia de sermos felizes em paz existirem, sentir-me-ei muralha intransponível para a defesa necessária contra a covardia das invejas acres, das armadilhas traiçoeiras que armam os que se acreditam poderosos porque se julgam os donos da verdade e os imperadores das razões.Gosto de você, e isso me torna mais poeta e mais artista, e as minhas rimas não rimam com dúvidas e as imagens são fortes e de cores firmes.Agora sei que os autores de novelas não precisam de muita imaginação para escrever os dramas de suas estórias compridas, ilustrada de muita maldade, matreirice, interesse, falsidade e covardia.Esses dramas fazem parte do cotidiano.Essas estórias se repetem, só que os personagens que atuam não são famosos, não são públicos nem recebem salários polpudos.Atuam de graça, premeditadamente, como nas novelas e não obedecem a um roteiro dirigido mas, ao sabor da diversificação de suas criativas ruindades.Gosto de você e ninguém me impedirá de continuar sonhando, de continuar feliz, embora precise permanecer em vigília constante, sentinela atento contra os ataques das velhas raposas, das hienas e dos lobos que só são valentes na alcatéia.Meu exercício de defesa sou eu e as minhas armas são as razões coerentes dos meus objetivos e dos meus direitos, como ser humano, como gente, como pessoa.Sei ser manso como o cordeiro e seresteiro como os pardais.Sei cantar como a cigarra irresponsável e nunca trabalho menos que a formiga, com a persistência e dedicação de um joão-de-barro.Se ofendido nos meus brios, se usurpado nos meus direitos, se humilhado no meu orgulho, travisto-me de fera ferida e acuado, saberei atirar-me com precisão num bote mortal das serpentes e a minha voz ribombará rouca como o grito dos trovões pelas feridas que os raios e relâmpagos abrem no céu.E é como ser humano que me permito guardar os ódios maiores, alimentar os rancores e negar o meu perdão àqueles só me pediram porque não havia outro caminho, outra alternativa ou porque foram descobertos sem chance de tentar um esconderijo onde ruminar seus fracasso.Sim, este é o meu grito de revolta e haverá de ser o meu brado de vitória.Não desistirei da minha luta porque ela também é a luta de muitos que não podem gritar, ou não sabem, ou não querem por conveniência ou medo.Não desistirei da minha luta contra essas normas comportamentais idiotas, contra esses preconceitos loucos, contra essas falsas razões.Deus é único, tenha lá a forma que tiver o nome que tenha.Se existir, mesmo, é superior e não restringe, não delimita, não coloca obstáculos, prega a paz e o amor, a união entre as criaturas e a fraternidade entre os que criou à sua imagem e semelhança.Grito hoje e agora porque ainda tenho força nos braços e enxergo longe.Continuarei lutando enquanto houver uma razão porque a minha certeza é hoje, agora pois amanhã...bem, amanhã será um novo dia...

Nota do Autor: Dedico essa crônica aos que, alheios à sua vontade, são a parte mais fraca dessas novelas diárias no drama interminável da vida que continua...

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-(ECA/USP). Jornalista profissional desde 1975, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV).

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