21/03/2012

Momentos de emoção


PAULO CAMINHA (*)
Jornalista e Escritor

Definitivamente, sou um sentimental.E assim como eu, acredito que todos nós somos, na medida exata de nossas variadas emoções.E quando as emoções estão em jogo, mesmo que tenhamos muito o que dizer, compreensivelmente abandonamos a palavra e, aprisionando o gesto, libertamos as lágrimas para apenas ouvir o coração.

É claro que falar de emoção hoje em dia, longe do refúgio das escuras salas de cinema ou das telas estimulantes da televisão, pode soar estranhamente como simples delírio ou poesias.Mas é exatamente disso que eu gostaria de falar: da emoção que sentimos espontaneamente sem o estímulo meloso de filmes e novelas do dia-a-dia.De repente, percebo nosso condicionamento em nos emocionarmos pura e simplesmente com fatos, coisas e situações com os quais apenas nos identificamos artificialmente, sem qualquer tipo de envolvimento real.Falo de emoções simples, capazes de romper todas nossas máscaras e cascas sem deixar marcas de culpas, sentimento de fragilidade ou mesmo de abandono.Falo por exemplo da emoção de um encontro, de uma despedida, de uma simples descoberta ou mesmo de uma leve ousadia.Na verdade dificilmente conseguimos liberar nossos sentimentos, sejam de alegria, tristeza ou mesmo frustrações, sem a ação de uma sugestão coletiva.O medo de nos defrontarmos com nossos medos e fantasmas nos leva invariavelmente a reprimir nossas emoções, esvaziando gritos, risos, e até o próprio coração.

Sou efetivamente um sentimental e não temo em esconder o que sinto em relação às coisas, pessoas, fatos e principalmente em relação à poesia, das lembranças presentes, passadas e até daquelas por sonhar.Condeno o silêncio contemplativo e submisso diante da razão, quando o momento nos exige apenas a emoção. Mesmo porque, conter as palavras, gestos, lágrimas, risos, enfim, todo tipo de sentimento espontâneo implica num risco maior de calarmos definitivamente o coração já não pode mais falar, só nos resta simplesmente viver, sem a certeza de estarmos emocionalmente vivos.

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Jornalista profissional desde 1975, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV), nas funções de repórter. Paulo Caminha é também professor de Língua Estrangeira, estudou como bolsista da Fundação Rotária, do Rotary Club Internacional (EUA).

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

Um comentário:

Glória Maria da Silva disse...

Olá, Sr. Paulo, como vai?

Estou gostando de ler as crônicas.
Continuar mantendo a sensibilidade no meio de tantos tormentos da vida
é um grande privilégio, para poucos....

"...cada coisa tem um instante em que ela é,e eu, quero apossar-me do é da coisa..."
(Clarice Lispector)

Que o senhor tenha uma boa tarde!

Gloria