Por PAULO CAMINHA, de São Paulo (*)
Um ritmo alucinante,
um corre-corre diário, uma enorme colméia onde 24 horas por dia todos se
agitam nervosamente. Um grande centro cultural, industrial,
universitário que mesmo assim não consegue suprir as necessidades
gerais.Assim pode ser definida a cidade de São Paulo.Nela tudo é
movimento incessante, ela não para nunca, nas ruas lotadas, as pessoas
se agitam nervosamente com muita pressa, numa procura constante de não
sei o que.Por mais que se faça está sempre faltando muita coisa, apenas
uma minoria é privilegiada, e grande maioria é esmagadoramente oprimida
por falta de recursos, alimentação, enfim tudo.
SÃO PAULO,
terra da poluição, do tempo inconstante, da garoa fininha que cai e
penetra nos corações das pessoas, tornando-as cada vez mais frias. São
Paulo um lugar que já foi calmo, sossegado, sem grande barulho, e que
os imigrantes e migrantes foram descobrindo e povoando através dos
tempos.Com esperanças de trabalho e de subir na vida, migram
principalmente do norte e nordeste.E foi com esse pessoal que cada dia
chegava mais e mais, que São Paulo foi crescendo e chegou ao ponto em
que está, saturada, as firmas não comportam mais tantos trabalhadores e
esses mesmos migrantes hoje lutam por um lugar ao sol, um lugar onde
trabalhar.
SÃO PAULO, lugar de bons hospitais como o das
Clínicas, Santa Casa, Beneficiência Portuguesa, que são os responsáveis
pela vinda diária de muitas pessoas, que aqui vem procurando a cura para
seus males.
SÃO PAULO, da poluição que nos dias de
intensa atividade das indústrias consegue sufocar as pessoas chegando
até mesmo a levá-las para o hospital.São Paulo, da correria, da
agitação, do trânsito louco, que mata e agride.A agitação altera a
cabeça das pessoas e muitas vezes o volante serve como válvula de
escape, produzindo efeitos negativos, que podem mesmo chegar a tirar
vidas humanas.
SÃO PAULO, que por BNHs, loteamentos
populares ou coisas do tipo, ainda deixa muitos de seus filhos ao
relento, dormindo embaixo de viadutos, praças, ou se alojando em
favelas, invadindo terreno alheios, a procura de aconchegos e proteção.
SÃO PAULO,
que por mais firmas, indústrias que apresente, deixa seus filhos de mão
estendida pedindo um pedaço de pão, um dinheirinho para o leite das
crianças.
SÃO PAULO, terra onde o paulistano trabalha
muito e tem pouca opção de lazer, já que uma grande maioria mora em
lugares periféricos, que pouco oferece. Paulistano trabalha semana
inteira e no sábado ou domingo, aquele que não sobrou nenhum para a
diversão é obrigado a ficar em casa vendo o programa do Faustão.
SÃO PAULO,
terra em que aquele que conseguiu guardar uma graninha para o lazer vai
pegar uma fila enorme nos cinemas, teatros e barzinhos da vida, onde a
moçada entre um chopinho e um bom papo tenta esquecer os problemas.
SÃO PAULO,
dos parques do Carmos, do Piqueri, Ibirapuera, onde as pessoas vão a
procura do verde, da paz, do sossego, longe da agitação diária.Paz que
mesmo nesses lugares está difícil de se encontrar, devido ao grande
número de pessoas que lá comparecem nos feriados, domingos, e que
soma-se aos muitos pipoqueiros, sorveteiros, atletas, crianças, bolas,
animais de estimação, sem falar é claro os tradicionais radinhos de
pilha.
SÃO PAULO, terra do Circuito Cultural, onde a
prefeitura do município oferece aos paulistanos uma opção a mais de
lazer, dando condução grátis, todos os domingos, para uma programação,
que proporciona um contato maior com as edificações que marcaram
períodos da história de São Paulo, como por exemplo, a Casa do
Bandeirante, uma construção rural do século XVIII, com o também o antigo
Mercado de Santo Amaro, do século passado, a casa das Retortas que
representa o início da industrialização em São Paulo e o Pátio do
Colégio.
SÃO PAULO, dos museus, do Ipiranga, de arte, arte brasileira, arte contemporânea, moderna, sacra, do telefone, etc.
SÃO PAULO,
dos fanáticos torcedores do Corinthians, São Paulo, Palmeiras, e outros
que lotam os estádios em dias de jogos, e que na euforia se deixam
levar por impulsos animalescos, agredindo-se uns aos outros, destruindo
estádios, e machucando torcedores e até mesmo jogadores, que muitas
vezes pensam estar disputando uma luta de boxe e não uma partida de
futebol.
SÃO PAULO, que por tudo isso deixa seus filhos
frios, quase que sem consciência, fazendo com que a fama do paulistano
seja a de insensível, de desumano.
SÃO PAULO, Dia 25 de
janeiro: essa é uma boa data para nós e principalmente para os
dirigentes dessa cidade, pararmos um pouco para refletir, até que ponto
estamos contribuindo para esse afastamento para a desumanidade e a falta
de amor, que essa data seja marcada pela reflexão dos seres humanos,
para que eles não se tornem assim como os grandes prédios de concreto
que tomaram conta desta cidade.
(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é jornalista e Doutor em Jornalismo
pela Universidade de São Paulo (ECA/USP). Jornalista profissional desde
1975, já trabalhou nos principais órgãos de imprensa do País: Imprensa
Oficial do Estado de S. Paulo-IMESP, Jornal do Brasil, O Dia, Folha de
S. Paulo, Estado de S. Paulo, A Tarde, Jornal da Manhã, O Globo e outras
publicações (revistas, e redes de TV), nas funções de repórter.
Atualmente o professor-doutor Paulo Caminha é jornalista correspondente e
professor universitário.
Contato Blog: paulo_caminha1@yahoo.com.br