22/03/2012

O importante é agora

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista e Escritor

O que impacienta mais é a espera. Os segundos são maçantes. Os minutos lerdos e as horas, nem pensar.Não têm pressa, parecem séculos.Às vezes flagro-me a ruminar esse tempo sem fim, aguardando o momento sagrado de tornar a vê-la.De correr para os braços dela e afogar-me, saciar-me, beber toda a minha sede, matar toda a minha fome.Se existiu um ontem qualquer, por mais importante que tenha sido, por mais importante que tenha se transformado, minha saudade ainda é voraz, grita pela presença dela e não se sossega enquanto seu rosto não vem para a moldura das minhas mãos que, em concha, seguro para beber-lhe em beijos e, de pertinho, fazer-lhe renovadas confissões de amor, que teima em não morrer, em não sucumbir às cobranças da sociedade mentirosa, fingida, superficial e indiferente.Se temos um pranto inteiro para chorar ou desabafos para gritar em confissões que precisam de amizade, que precisam de um ombro companheiro que não cobre nada, que se fique ali, simplesmente amigo, para escutar o que temos a dizer ou para entender o nosso silêncio, a nossa lágrima, nosso grito, essa sociedade inexiste. Faz-se ausente.

Pois bem.A espera me consola.Ligo o gravador e as músicas parecem lentas, tornando mais morosos os minutos do tempo que me separa da chegada dela.E não importa a hora que chegue mas, quando vem, é sempre alvorada.Às vezes já é noite, mas é exatamente aí que começa o meu dia e o meu sol principia a brilhar, enchendo tudo de cores fantásticas, como a primeira manhã de verão.Aí, sim, o tempo tem fome.Passa célere.Os segundos famintos logo se transformam, em minutos e as horas, (quando, existe tempo para horas?) logo se formam e, quando menos espero, já é hora de ir embora e começar outra espera, outra vez...E não me resta outra saída a não ser curtir essa sagrada angústia de aguardar para tê-la, outra vez, nos meus braços, para o aconchego do meu carinho, para a resposta dos meus desejos e o eco das mais solene confissões de homem apaixonado.Queria as flores do mundo, as mais belas, as mais perfumadas e, num buquê, oferta-lhe ou, humildemente, genuflexo aos seus pés, dizer-lhe do meu amor e fazer-lhe crer que não existe mais amor sobrando no mundo com que eu possa amar-lhe mais ainda.É exatamente ali o limite.É o quanto o homem pode amar a uma mulher, aquela com quem sonhou a vida inteira e, depois de tantas caminhadas errantes, de repente, encontrá-la e, sem ligar para os pés exangues, vencer distâncias sobre as areias em brasa do seu destino e atirar-se de corpo e alma, na miragem mais esperada da sua vida.

A espera pode me consumir, apertar meu peito, sufocar meu coração, mas mesmo que as perspectivas de outros amanhãs sejam bem poucas, eu me contento com o hoje, com o agora, com o daqui a pouco porque a vida é feita dia-a-dia, um depois do outro e, para quem já esperou tanto, o importante é agora...

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Jornalista profissional desde 1975, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV), nas funções de repórter. Paulo Caminha é também professor de Língua Estrangeira, estudou como bolsista da Fundação Rotária, do Rotary Club Internacional (EUA).

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

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