20/08/2012

A falta de ética na imprensa

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

Os exageros de determinados órgãos de Imprensa e fartamente aplicados em períodos eleitorais constituem muitas vezes crimes definitivos, porque passado o episódio eleitoral, a vítima de campanhas muitas vezes sórdidas e pessoais, poderá receber qualquer tipo de reparo, menos o dano irreparável da derrota. No Brasil, logo após o regime militar, mais ainda sob a égide da Constituição de 1967, sem os Atos Institucionais que a desfiguraram foram utilizadas largamente, como uma espécie de "porre de liberdade", não sendo um fenômeno brasileiro.Na verdade isso ocorreu em todos os países no primeiro instante após longos anos de governos arbitrários, como por exemplo, em Portugal, na "revolução dos Cravos" de 1973.

No entanto, com o advento da Constituição de 1988, com as eleições gerais de 1989, o que se assistiu foi o açodamento mais isolado, aqui ou ali,mas a nossa "ressaca" nem chegou a incomodar, pois logo o episódio que levou o presidente Collor de Mello à renúncia, mesmo assim transformada em impeachment pelo Senado, deu demonstrações inequívocas de que a Imprensa sabe cumprir bem o seu papel.Não foi a campanha de um jornal ou de uma revista que derrubou o jovem presidente: foi a liberdade de Imprensa que repercutiu denúncias que partiram de seu próprio irmão.Collor deve à mídia, principalmente à eletrônica, sua eleição em 89, e na contrapartida, a Imprensa nada deve à Collor por haver acompanhado cada passo do rumoroso escândalo que envolveu PC Farias e que culminou com sua queda. E tudo na mais absoluta ordem, sem tentativas golpistas, e até sem o sensacionalismo comum aos grandes eventos desta natureza.Curiosamente, o suicídio de Getúlio Vargas e a renúncia de Jânio Quadros ocorreram exatamente em períodos de liberdade de Imprensa.Getúlio sucumbiu diante do "mar de lama", e Jânio com sua renúncia, praticamente abriu caminho para a revolução de março de 64, porque os militares não aceitavam Jango Gulart.

No entanto,poucos se aperceberam que não tivemos revoluções sangrentas em 1954 ou 10 anos depois, porque o Brasil se comunicava precariamente à distância, por telefone por rádio, com uma televisão ainda elitizada.Ainda assim,é de se louvar os grandes jornais como O Globo, Jornal do Brasil, Correio da Manhã. O Estado de São Paulo, A Folha de S. Paulo e os Diários Associados, que cumpriram o papel fundamental da Imprensa que é primeiro o de informar seus leitores.Não que não tivessem exercido suas opiniões em Editoriais, que não tenham tomado partido em favor de uma situação ou outra, mas quando o fizeram, não recorreram à fotomontagens, a expedientes mesquinhos como infelizmente, muitos ainda hoje insistem em utilizar como meio de atingir interesses escusos ou vantagens subalternos.

Passado o tempo, sempre somos lembrados que a Imprensa é o quarto Poder.Por que se dá esta importância à Imprensa? Porque cabe a ela enquanto Instituição, ser a sentinela isenta do cidadão, e por conseguinte, a salvaguarda democrática definida e perene do pleno exercício de cidadania.

Estamos vivendo os novos tempos da globalização, que tem passagem obrigatória pelos meios de Comunicação. A Ética, palavra usada tão costumeiramente por todos, tem origem no comportamento, e em qualquer atividade humana.Assim como, forma o binômio ética-postura, esta última tratando da retidão.Sempre que um órgão de comunicação, qualquer que seja a sua importância perante um determinado público, e por menor que seja esse público, foge de sua função social, promove "guerrilha" cultural e desinformação.O perigo que daí decorre, é inimaginável.

Cabe à mídia eletrônica, pela forma massificante de penetração no chamado inconsciente coletivo, se ater tanto à ética quanto à postura.Novamente nos deparamos com o chamado risco de dano irreparável: pela rotatividade da audiência, quando retificada a notícia falsa ou mentirosa, ela já formou juízo de valor em quem ouviu, ou em quem ouviu e viu.Não é diferente na mídia impressa, seja revista, um jornal de grande circulação ou um jornal ou revista dirigida.Nesses casos é ainda pior, porque permite o uso e o abuso das campanhas difamatórias e pessoais, as quais mesmo depois de levadas aos tribunais, podem ressarcir materialmente se o dano for material, mas jamais podem recompor a moral ultrajada dos acusados injusta, ou mentirosamente.

Não cometer esses erros e não fugir dos princípios sadios de bem informar, é uma conduta que faz parte integrante da história de muitos jornais e blogs.No entanto, antes, é essencialmente o cumprimento da obrigação perante o público leitor.Esta Imprensa ética, é fundamental para a consolidação do estado de Direito e da própria Democracia no Brasil.Imprensa e Ética são indissociáveis.Não há como separá-las sem graves danos sociais e culturais.

(*) PAULO CAMINHA é jornalista e doutor em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é repórter correspondente e professor universitário.

E-mail:paulo_caminha1@yahoo.com.br

Nenhum comentário: