03/06/2013

Tim Lopes: morte de jornalista completa 11 anos



Por PAULO CAMINHA (*)
Jornalista Correspondente

A morte cruel e bárbara, do jornalista Tim Lopes (foto), repórter da Rede Globo, que tentava mostrar como funciona o tráfico de drogas no Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, é reveladora de que o narcotráfico desrespeita, desconhece a lei, e banaliza a vida, segundo seus estranhos critérios de quem tem direito à vida, e de quem só tem direito à morte, por tentar interferir em suas atividades criminosas.

É um “código penal” deles, poderosos facínoras que cometeram um crime hediondo contra o jornalista, que teria sido torturado antes de morrer.E traficantes e criminosos que fazem parte desses “exercítos” formados por conta da impunidade que reina no Brasil, prosperam com as imensas e fabulosas somas que o crime fornece a eles, dinheiro sujo que é usado para armamentos, suborno de policiais desonestos, e a “compra do silêncio” que conseguem, mediante agrados para comunidades carentes, ou na base e pura e simples da intimidação, nos locais onde então incrustrados os seus “quartéis-generais”.

No entanto, desta vez, foram longe demais! Não apenas porque mataram um jornalista que pertencia aos quadros da importante Rede Globo de TV: principalmente por haverem desrespeitado a nós, enquanto jornalistas, e a instituição conhecida como Imprensa.Mas grave ainda, é a demonstração de que todos nós cidadãos estamos sujeitos à esta nova forma de violência e de “ditadura” dentro do nosso país: a “ditadura do medo”.E não podemos esquecer que Tim Lopes, um profissional sério e competente e um dos mais festejados nesse pequeno, porém valioso “time” de jornalistas que investigam com audácia e destemor, morreu pela “condenação” à morte por organizações criminosas, sem que a polícia, a Justiça tenham elementos suficientes para a punição exemplar.

Longe de partirmos para a defesa da pena de morte, mais muito perto de nós está a realidade: ou as nossas polícias se preparam devidamente, inclusive com equipamento adequado e pessoal especializado: bem como a Justiça possa passar pela reformulação que conceda aos juízes e magistrados os instrumentos legais para penas mais duras, de duração compatível com o tamanho do delito cometido, e especialmente, que impeçam que criminosos violentos e que causam da nos irreparáveis para suas vítimas e famílias sejam beneficiados por redução de pena, liberdade condicional e outras manifestações, que dão o refresco ao criminoso para que possa imaginar que rapidamente estará de volta às ruas.

Os matadores de Tim Lopes atingiram em cheio ao fundamento de qualquer Democracia, que é o dever da Imprensa de denunciar e informar.A liberdade de expressão é o pressuposto indispensável à qualquer sociedade que se pretenda rotular de livre e democrática, onde a plenitude do Estado de Direito é a mais importante salvaguarda da população.E estamos experimentando na nossa própria carne, vendo escoar pela via da impunidade, o sangue de brasileiros e brasileiras inocentes.É neste clima de indignação que os nossos legisladores, sim, deputados federais e senadores, precisam legislar, dando à Justiça os meios para que volte ao nosso cotidiano a valer o chavão, o bordão simplista, de que o crime não compensa.Sem punição rigorosa, os criminosos vão continuar assaltando, estuprando, violentando e matando, através de suas leis próprias, e desconhecendo o ordenamento da sociedade civil, cujo princípio básico é o de que todos somos iguais perante a lei.Que medo pode tomar conta do criminoso, se ele tem a certeza de que não será punido? Se criminosos, que agem com mais ou menos violência, sabem que podem quando muito passar uma curta temporada na cadeia e depois voltam tranqüilamente às ruas para mendrontar cidadãos incautos e cidadãs indefesas?

(*) Sobre o Autor - PAULO CAMINHA é jornalista e doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP). Paulo Caminha é jornalista profissional desde 1980. Trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV). Atualmente, é jornalista e professor universitário aposentado.

Fale com o Editor: paulorobertodasilvap@yahoo.com.br

Nenhum comentário: