25/03/2012

Viver é participar

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista e Escritor

Transporte coletivo, ensino, lazer, segurança, abastecimento, salário, emprego, ecologia, tarifas de serviços públicos, assistência médica.Mais um ano termina e novamente os velhos costumes permanecem ilesos e inalterados.Será que ainda há salvação para o brasileiro, enquanto consumidor e usuário de serviços públicos e privados?

A resposta tem de ser positiva. Mas, não porque haja perspectivas avanço sensível em termos de qualidade de vida para o nosso povo em nosso País. Ao contrário: sem querer ser pessimista, tudo indica que o ano que começa será ainda mais difícil do que o ano de 2011.Só não vê quem não quer. O Brasil terá, em 2012, um ano muito provavelmente dramático. Somente com muita luta conseguiremos suportar e, quem sabe, superar as dificuldades que nos esperam.

Mas, a melhoria de nossas condições de vida depende, fundamentalmente, de nós mesmos. Se nos acomodarmos, corremos o risco de regredir, em vez de avançar.É preciso que nos mobilizemos cada vez mais em defesa dos nossos interesses.Todos os recursos devem ser utilizados.

Cochicho, queixa, lamúria, não levam a nada.A pressão popular já forçou a criação de organismos oficiais mais diretamente destinados a defesa do consumidor e usuário, como o Procon e Juizado de Pequenas Causas.Mas, eles funcionarão eficientemente se prestigiados, isto é, se procurados, acionados e cobrados.Além deles, existem outros canais por onde se pode conduzir a força da vontade popular.As associações são um desses canais.Mas, há também, as cooperativas, as sociedades, os clubes de serviços, os sindicatos, os partidos políticos.Aquele usuário de serviços públicos ou privados, aquele consumidor, aquele cidadão brasileiro, enfim, que pretenda ver seus direitos respeitados, deve se filiar a um desses canais, pelo menos, ou a todos, se possível.

Principalmente ao último deles, o partido político.Sim. É preciso acabar com esse negócio de só achar que política é uma “coisa suja”. Vamos dar nossa contribuição para “limpá-la”. Ficar de fora, “metendo o pau” em quem está dentro, sabe lá às vezes com que sacrifício, não adianta nada.Vamos também oferecer, em vez de só exigir.Vamos dar a nossa contribuição efetiva para que as coisas melhorem.Por isso, assim que puder, filie-se a um partido, a um sindicato, a um clube de serviço, a uma sociedade, a uma cooperativa.

Filie-se e não limite sua contribuição apenas isso. Milite, efetivamente, oferecendo sugestões e críticas.Lute por seus direitos e pelos diretos dos outros.Viver é lutar.

E o que é lutar, em termos de se buscar uma melhoria dos nossos padrões de vida? É participar cada vez mais da defesa dos interesses da população. Só assim atingiremos o objetivo de tornar nossa sociedade mais humana e fraterna.

Precisamos nos conscientizar de que somos todos responsáveis por isso.Não podemos acreditar que nossos problemas, nossas dificuldades serão resolvidas, por nossos governantes, sejam eles de que partidos forem.

Leis, nós já temos até demais.O que precisamos é de quem as faça cumprir, fazendo valer,assim, nossos direitos por elas garantidos.Mas, que melhor fiscal de nossos direitos, do que nós mesmos?

Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos um transporte coletivo pontual, confortável e seguro.

Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos um ensino gratuito, mas atraente e eficaz.
Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos mais e melhores opções de lazer.

Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos a segurança que não temos, de quem é pago por nós para proporcioná-la e não para nos amedrontar e violentar.

Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos um sistema de abastecimento sem especulação onde os produtos tenham qualidade garantida.

Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos salários compatíveis com nossa capacidade de produção e que nos proporcionem um padrão de vida à altura dessa capacidade.

Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos evitar o fantasma do desemprego, inadmissível presença numa cidade onde ainda há tanto por fazer.

Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos preservar a natureza, da qual somos parte integrante e de cujo equilíbrio precisamos para nossa sobrevivência saudável.

Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos impedir altas abusivas das tarifas de serviços públicos, que, nem por serem públicos, precisam necessariamente, dar prejuízo, mas devem sim, ter o objetivo maior interesse da população e não do lucro.

Só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos ter uma assistência média que não veja, no doente, apenas uma fonte de lucro fácil, mas, principalmente, o ser humano necessitado de cura.

Finalmente, só assim, vigilantes e atuantes, conseguiremos fazer, da sociedade itabunense, uma sociedade digna do significado real desta palavra, porque responsável, solidária e, assim alegre.

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é jornalista e Doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Jornalista profissional desde 1975, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV), nas funções de repórter. Atualmente, é jornalista correspondente e professor de Língua Estrangeira.

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

O que é a felicidade?

MILTON HÊNIO (*)
Médico e Escritor

Na estrada da vida não há paradas. Ou você caminha para a frente, isto é, progride, ou caminha para trás, regride. Se você para, a vida continua e deixa-o à margem. Todas as pessoas têm, como objetivo supremo, a conquista da felicidade. O que seja essa felicidade em termos objetivos, como consegui-la, varia de pessoa para pessoa. “O homem – escreveu Marden – foi criado para ser feliz”. Como se explica, pois, que tanta gente viva infeliz? É que na caminhada da vida saíram dos seus limites. Por vários motivos. Santo Agostinho já lembrava em seus sábios ensinamentos que todas as vezes que você sai dos seus limites sua vida se transforma num inferno. No mundo moderno muitas pessoas querem ter o prazer a qualquer custo em todas as áreas, e então se perdem no caminho, tornando-se infelizes. Vejam alguns dados de 2011: o brasileiro consumiu 13 bilhões de litros de cerveja naquele ano; 44 mil adolescentes morreram em acidentes de moto, carros, ônibus, assassinatos e outras causas antinaturais. Cinco milhões de crianças nasceram filhos do “fiquei” e do “ficou”, a maioria de mães adolescentes na faixa dos 13 aos 19 anos. Como serão essas crianças no futuro sem o amor do pai e o aconchego de um lar? Não conviverão com facilidade, com a felicidade. A felicidade é um estado de espírito, um estado da mente. Devemos buscá-la dentro de nós e não fora. Depende do que “somos” e não do que “temos”. A felicidade depende da busca em atingir objetivos, de um sentido de vida. Temos hoje, no Brasil, 30 milhões de depressivos, que por situações adversas perderam o rumo da estrada, mas que lutam com ansiedade para vencer os obstáculos e voltar a ser felizes. E conseguirão, tenho certeza.

Dizem os psicólogos que a felicidade é o momento presente. Pois bem, eu vivi momentos de intensa felicidade no último dia 19, quando, na sala de parto, recebi em meus braços a minha linda netinha Heloisa (homenagem à bisavó). Os outros avós, minha esposa Myrza, Vaninha e Ronaldo, junto aos pais Cacá e Pollyana, choraram de emoção. Felicidade inaudita. Que a minha querida Heloisa, seja como sua bisavó, uma verdadeira mensageira da paz e do amor. E será, com as benção de Deus. E a vida continua. E cada dia é menos um dia em nossa caminhada terrena. Vamos caminhar e cheios de esperança, sempre que o amor envolva nossos sonhos e realidades. Os sonhos às vezes desfolham-se como o vento, mas a esperança fica esperando ter como companhia a felicidade.

22/03/2012

O importante é agora

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista e Escritor

O que impacienta mais é a espera. Os segundos são maçantes. Os minutos lerdos e as horas, nem pensar.Não têm pressa, parecem séculos.Às vezes flagro-me a ruminar esse tempo sem fim, aguardando o momento sagrado de tornar a vê-la.De correr para os braços dela e afogar-me, saciar-me, beber toda a minha sede, matar toda a minha fome.Se existiu um ontem qualquer, por mais importante que tenha sido, por mais importante que tenha se transformado, minha saudade ainda é voraz, grita pela presença dela e não se sossega enquanto seu rosto não vem para a moldura das minhas mãos que, em concha, seguro para beber-lhe em beijos e, de pertinho, fazer-lhe renovadas confissões de amor, que teima em não morrer, em não sucumbir às cobranças da sociedade mentirosa, fingida, superficial e indiferente.Se temos um pranto inteiro para chorar ou desabafos para gritar em confissões que precisam de amizade, que precisam de um ombro companheiro que não cobre nada, que se fique ali, simplesmente amigo, para escutar o que temos a dizer ou para entender o nosso silêncio, a nossa lágrima, nosso grito, essa sociedade inexiste. Faz-se ausente.

Pois bem.A espera me consola.Ligo o gravador e as músicas parecem lentas, tornando mais morosos os minutos do tempo que me separa da chegada dela.E não importa a hora que chegue mas, quando vem, é sempre alvorada.Às vezes já é noite, mas é exatamente aí que começa o meu dia e o meu sol principia a brilhar, enchendo tudo de cores fantásticas, como a primeira manhã de verão.Aí, sim, o tempo tem fome.Passa célere.Os segundos famintos logo se transformam, em minutos e as horas, (quando, existe tempo para horas?) logo se formam e, quando menos espero, já é hora de ir embora e começar outra espera, outra vez...E não me resta outra saída a não ser curtir essa sagrada angústia de aguardar para tê-la, outra vez, nos meus braços, para o aconchego do meu carinho, para a resposta dos meus desejos e o eco das mais solene confissões de homem apaixonado.Queria as flores do mundo, as mais belas, as mais perfumadas e, num buquê, oferta-lhe ou, humildemente, genuflexo aos seus pés, dizer-lhe do meu amor e fazer-lhe crer que não existe mais amor sobrando no mundo com que eu possa amar-lhe mais ainda.É exatamente ali o limite.É o quanto o homem pode amar a uma mulher, aquela com quem sonhou a vida inteira e, depois de tantas caminhadas errantes, de repente, encontrá-la e, sem ligar para os pés exangues, vencer distâncias sobre as areias em brasa do seu destino e atirar-se de corpo e alma, na miragem mais esperada da sua vida.

A espera pode me consumir, apertar meu peito, sufocar meu coração, mas mesmo que as perspectivas de outros amanhãs sejam bem poucas, eu me contento com o hoje, com o agora, com o daqui a pouco porque a vida é feita dia-a-dia, um depois do outro e, para quem já esperou tanto, o importante é agora...

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Jornalista profissional desde 1975, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV), nas funções de repórter. Paulo Caminha é também professor de Língua Estrangeira, estudou como bolsista da Fundação Rotária, do Rotary Club Internacional (EUA).

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

21/03/2012

Momentos de emoção


PAULO CAMINHA (*)
Jornalista e Escritor

Definitivamente, sou um sentimental.E assim como eu, acredito que todos nós somos, na medida exata de nossas variadas emoções.E quando as emoções estão em jogo, mesmo que tenhamos muito o que dizer, compreensivelmente abandonamos a palavra e, aprisionando o gesto, libertamos as lágrimas para apenas ouvir o coração.

É claro que falar de emoção hoje em dia, longe do refúgio das escuras salas de cinema ou das telas estimulantes da televisão, pode soar estranhamente como simples delírio ou poesias.Mas é exatamente disso que eu gostaria de falar: da emoção que sentimos espontaneamente sem o estímulo meloso de filmes e novelas do dia-a-dia.De repente, percebo nosso condicionamento em nos emocionarmos pura e simplesmente com fatos, coisas e situações com os quais apenas nos identificamos artificialmente, sem qualquer tipo de envolvimento real.Falo de emoções simples, capazes de romper todas nossas máscaras e cascas sem deixar marcas de culpas, sentimento de fragilidade ou mesmo de abandono.Falo por exemplo da emoção de um encontro, de uma despedida, de uma simples descoberta ou mesmo de uma leve ousadia.Na verdade dificilmente conseguimos liberar nossos sentimentos, sejam de alegria, tristeza ou mesmo frustrações, sem a ação de uma sugestão coletiva.O medo de nos defrontarmos com nossos medos e fantasmas nos leva invariavelmente a reprimir nossas emoções, esvaziando gritos, risos, e até o próprio coração.

Sou efetivamente um sentimental e não temo em esconder o que sinto em relação às coisas, pessoas, fatos e principalmente em relação à poesia, das lembranças presentes, passadas e até daquelas por sonhar.Condeno o silêncio contemplativo e submisso diante da razão, quando o momento nos exige apenas a emoção. Mesmo porque, conter as palavras, gestos, lágrimas, risos, enfim, todo tipo de sentimento espontâneo implica num risco maior de calarmos definitivamente o coração já não pode mais falar, só nos resta simplesmente viver, sem a certeza de estarmos emocionalmente vivos.

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Jornalista profissional desde 1975, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV), nas funções de repórter. Paulo Caminha é também professor de Língua Estrangeira, estudou como bolsista da Fundação Rotária, do Rotary Club Internacional (EUA).

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

20/03/2012

Amanhã será um novo dia...

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista e Escritor

É bom saber que você existe.Melhor ainda sentir a certeza do amor que nasceu entre nós.É bom saber que você pensa em mim, em silêncio e em silêncio eu me habituo à idéia de amar você.Já nem me importo com as lembranças que curti, sozinho, ruminando cada uma das solidões a que me entreguei quando fracassaram as tentativas e investidas que assumi em busca da ilusão, sim, mas é bom acreditar que ela pode estar ali, logo depois da curva, quando os trens que nos transportam nas fugas, apitam num lamento que cala fundo na alma, cheia de saudade...É bom saber que você existe, que está perto porque está e mais próxima ainda porque os encontros furtivos nos levam ao aconchego conivente das nossas entregas.

Pode ser que hoje não possamos gritar ao mundo a dimensão dos sentimentos que vimos brotar porque plantamos, cada um, na terra fértil da carência, da necessidade e de uma consciência feliz arquitetada pelo destino. Não houve premeditação no primeiro encontro, não houve trama no primeiro olhar nem armadilhas no primeiro abraço, disso temos a certeza.Aconteceu, pronto.Coisas de destino e que pertencem a um passado irreversível, impossível, portanto, de ser modificado.É bom saber que você existe...E se não podemos caminhar pelas madrugadas desses dias que temos medo de ver nascer; se não podemos curtir por inteiro a magia diferente de cada deitar do sol; se ainda não nos é permitido esquecer o tempo e contar estrelas de uma noite inteira, se nos vetam os alvarás hipócritas para que possamos caminhar em liberdade, bebendo cada beijo a que temos direito e unidos por cada abraço que acende nossos desejos comuns, resta-nos o consolo de que, inteligente, como diz a sabedoria...Resta-nos a cumplicidade das escapadas, quando podemos, então, nos apoderar do mundo e do universo, espaços únicos e capazes de comportar a grandeza dos sentimentos que se avolumam dentro de nós.É bom saber que você existe e que o sorriso com que sorria para mim é o verdadeiro, é o desabrochar da felicidade do espírito...Sim, eu te amo, muito... e não me importo com as vezes que já confessei esse sentimento, iludido comigo mesmo, com as minhas fantasias, com os meus sonhos.Só hoje vejo o quanto estive enganado, porque amar...amar, meu amor, deve ser isso que descobrir quando senti imensamente a tua falta, mesmo que o tempo passado tivesse sido apenas de um par de horas, desde o último encontro...É que houve espera, houve expectativa, o que serviu para me dar os parâmetros e imaginar todas as dimensões desse sentimento...Se não te posso mostrar ao mundo e para o mundo dizer que cheguei, finalmente, ao fim da minha busca e de todas as minhas procuras pelo lugar definitivo, posso, por enquanto, adormecer feliz com a certeza de que, ontem adormecestes nos meus braços e porque sei o quanto esperas, hoje, chegar à hora de nos vermos outra vez.Ontem, foi ontem.Hoje é agora e ninguém vai nos roubar esse tempo a que nos permitimos e amanhã...bem, amanhã meu amor, será um novo dia...

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Jornalista profissional desde 1975, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV), nas funções de repórter. Paulo Caminha é também professor de Língua Estrangeira, estudou como bolsista da Fundação Rotária, do Rotary Club Internacional (EUA).

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

18/03/2012

Coisas da Vida

PAULO CAMINHA (*)
Jornalista

De longe parece iguais.Vistas assim, sem profundidade, as estórias são comuns e as situações mergulham desajeitadas aos julgamentos precipitados dos que estão de fora, só curtindo as críticas. E, de longe parecem iguais e, se a gente fala de pessoas reais ou apela para licença a que se permitem os poetas, artistas, sonhadores, criando fantasias com os retalhos de verdade de muitas passagens, aí é que a semelhança se torna maior e alguns poucos se entendiam, misturando, sem autoridade, as pequenas diferenças, importantes para aquele que viveu ou pretendeu viver os momentos que descreveu, numa mesmice injusta.Amor é amor.Aqui, ali, mais além.E assim também é a paixão, o ódio, a violência.E comum e igual uma entrega honesta ou possuem a mesma palidez as aventuras vividas com o interesse.Seja ela qual for.Algumas coisas mudam, é verdade.Mudam em pequenos detalhes mas, na sua essência, são iguais, comuns.

Outro dia mesmo estive partilhando da felicidade de um amigo e, de uma certa forma, vibrava com o sorriso com que ele sorria para o tempo, colocando as mãos atrás da nuca, fitando um ponto imaginário qualquer, imaginando um futuro que ele vem perseguindo com paciência.De repente, seu rosto ilumina-se com a chama branda de uma paixão que está adquirindo a consistência de um amor curtido na espera.Nem mesmo as flores que ele usa para falar dos sentimentos que lhe fustigam o peito por dentro o tornam diferente daquele que só tem palavras.

Muitas vezes sento-me diante de uma folha de papel e vejo as teclas à minha frente.As letrinhas são as mesmas.Tenho consciência da responsabilidade de dar-lhes melhor sentido e aí, rebusco nas minhas fotografias os retalhos de um passado que me pertenceu.Um passado que, numa circunstância qualquer, vivi-o sozinho ou na companhia agradável de uma metade que me completou.Quando as fotografias não me dizem nada, fecho os olhos e apelo para as palavras amigas e doces que me contaram alguma coisa importante, sem me importar quando e faço delas o meu tema, sem a preocupação com a lógica de uma sequência metódica, técnica, catedrática.Valho-me, é verdade às vezes, da metáfora, uma forma acanhada de encompridar o caminho, de dizer acanhado aquilo que sinto.Mesmo aquelas que significaram bem pouco valeram a pena.Transformei-as em lições das quais não me permito a distração mais significante de esquecer.Outras, no entanto, faço questão de não esquecei e aí, apelo para cada um dos muitos momentos que nos foram comuns, marcados pela alegria do encontro que chegou depois da ânsia e da expectativa de uma espera. Não se pode inventar muito sobre o comum nem se pode confundir o comum com o banal ou vulgar, seria injusto.A mesma menina de tranças que tantas vezes esteve nas linhas, nas entrelinhas e até nas minhas páginas em branco, por exemplo, continua viva aqui dentro.Faço questão de não esquecer dela.Outro dia, no meio da semana, passei por ela e no sorriso com que me disse um “ôi” depois de tanta ausência, revivi uma vida inteira, um passado que, assim, sem mais nem menos, passou-me diante dos olhos.Isto é comum, é igual, é corriqueiro, mas não é banal nem vulgar e sobre as coisas pequeninas que faço grandes não posso inventar nem abastecer em demasia os limites e horizontes da fantasia, seja para aumentar o êxtase, seja para tomar mais sofisticada a coordenação das palavras que vou arrancando das teclas, sob pena de tornar-me enfadonho ou transformar a simplicidade de uma paixão, de um retalho de amor, de uma ira repentina ou de um perdão temporário ou eterno numa novela sem fim e sem nexo.

Qualquer dia desses, só para fugir à rotina eu chamo o homemzinho verde para levar-me pelo cosmos e voltar com estórias do universo ou então faço ouvidos de mercador e, sem me importar com o cansaço alheio, continuo a dedilhar meu terço, falando das coisas da vida...

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é doutor em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Jornalista profissional desde 1975, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV). No momento é editor deste Blog e jornalista correspondente.

Jornalista Paulo Caminha lança livro de crônicas em dezembro

CARLOS ACUIO (*)
Da Reportagem

O jornalista Paulo Caminha, editor deste Blog, lança em dezembro, em São Paulo, seu 2º livro. “Ah, se o tempo voltasse". “Não se pode inventar muito sobre o comum como banal ou vulgar, seria injusto”. Este trecho da Crônica Coisas da Vida, do jornalista Paulo Caminha, sintetiza bem a linha mestra do trabalho do autor: fotografar ações e situações cotidianas e transportá-las para um pequeno texto, de cinco ou seis parágrafos e linguagem simples e direta.A reunião desses ligeiros fotogramas do dia a dia está presente em “Ah, se o tempo voltasse...”, seu segundo livro. Algumas crônicas já foram publicadas em jornais e outras ainda permanecem inéditas.

Romântico assumido, Caminha não tem pudores em enveredar pelo lugar-comum e declarar teu amor às pessoas que o atraem.Procura revolver suas lembranças e sentimentos, bem como captar e recriar o trivial contemporâneo, sem a preocupação de construir imagens complexas ou tortuosas.É lógico que, como todo cronista e escritor, sempre adiciona algo de ficção e fantasia aos seus relatos e observações pessoais, pois excitar a sensibilidade, a paixão e a fraqueza supera qualquer preocupação em preservar a fidelidade dos fatos.

Encontros e reencontros, separações e despedidas, novos e antigos amores são temas que frequentemente permeiam a maioria dos textos. O autor, hoje com 58 anos, volta à sua juventude e relembra seus primeiros amores e namoradas, seus desejos e frustrações, e às vezes conta a estória de uma tentativa de retornar e reviver um velho amor, já não tão forte como no início da relação, rompida há 30 anos.Às vezes, prefere a perda da amada – o que atesta efemeridade dos amores – e se consolar com a visão das estrelas, já que essas seriam eternas e não ousaria abandoná-lo jamais.

O tempo é o melhor e o pior conselheiro de Caminha.Ora faz esquecer, ora faz lembrar.Pode tanto curar os corações enfermos, como agravar ainda mais o mal.O autor sabe disso, e procura explorar toda a condição que cerca a situação.No final de tudo, fica uma constatação, implacável, o tempo modifica as pessoas e os sentimentos.Nem sempre para melhor, nem sempre para pior.Mas modifica.

Também a exploração comercial e egoísta dos sentimentos, da afeição natural que existe entre os indivíduos, recebe o olhar crítico do escritor e cronista.Para ele, a maioria das emoções expressadas pelas pessoas ressente-se de naturalidade e espontaneidade.Não brota do fundo de suas almas.Quando isolados os indivíduos evitam se expor, demonstrar o que sentem.As emoções, afirma o autor, assumiriam mais o papel de respostas coletivas às inúmeras sugestões sentimentais que os meios de comunicação, à televisão, o cinema descarrega sobre os seres viventes nas sociedades contemporâneas de consumo industrial.

11/03/2012

Amanhã será um novo dia

PAULO CAMINHA
Jornalista e Escritor

Gosto de você, é definitivo. Não importa que a extensão dessa pretensão seja limitada pela imprevisibilidade das surpresas desagradáveis. Gosto de você, tenho esse direito e é essa a minha vontade, e se a reciprocidade corresponder às confissões que tenho ouvido em sussurros à meia-luz da nossa intimidade, exijo respeito em derredor.Somos humanos e a matéria que corre em nossas veias é igual àquela que alimenta as vidas comuns dos juízes ridículos que nos cobram comportamentos e vomitam o azedume de seus interesses mesquinhos contrariados.Enquanto o calor da tua companhia aquecer a alegria com que nos damos, e os encontros para os quais fugimos apenas com a ânsia de sermos felizes em paz existirem, sentir-me-ei muralha intransponível para a defesa necessária contra a covardia das invejas acres, das armadilhas traiçoeiras que armam os que se acreditam poderosos porque se julgam os donos da verdade e os imperadores das razões.Gosto de você, e isso me torna mais poeta e mais artista, e as minhas rimas não rimam com dúvidas e as imagens são fortes e de cores firmes.Agora sei que os autores de novelas não precisam de muita imaginação para escrever os dramas de suas estórias compridas, ilustrada de muita maldade, matreirice, interesse, falsidade e covardia.Esses dramas fazem parte do cotidiano.Essas estórias se repetem, só que os personagens que atuam não são famosos, não são públicos nem recebem salários polpudos.Atuam de graça, premeditadamente, como nas novelas e não obedecem a um roteiro dirigido mas, ao sabor da diversificação de suas criativas ruindades.Gosto de você e ninguém me impedirá de continuar sonhando, de continuar feliz, embora precise permanecer em vigília constante, sentinela atento contra os ataques das velhas raposas, das hienas e dos lobos que só são valentes na alcatéia.Meu exercício de defesa sou eu e as minhas armas são as razões coerentes dos meus objetivos e dos meus direitos, como ser humano, como gente, como pessoa.Sei ser manso como o cordeiro e seresteiro como os pardais.Sei cantar como a cigarra irresponsável e nunca trabalho menos que a formiga, com a persistência e dedicação de um joão-de-barro.Se ofendido nos meus brios, se usurpado nos meus direitos, se humilhado no meu orgulho, travisto-me de fera ferida e acuado, saberei atirar-me com precisão num bote mortal das serpentes e a minha voz ribombará rouca como o grito dos trovões pelas feridas que os raios e relâmpagos abrem no céu.E é como ser humano que me permito guardar os ódios maiores, alimentar os rancores e negar o meu perdão àqueles só me pediram porque não havia outro caminho, outra alternativa ou porque foram descobertos sem chance de tentar um esconderijo onde ruminar seus fracasso.Sim, este é o meu grito de revolta e haverá de ser o meu brado de vitória.Não desistirei da minha luta porque ela também é a luta de muitos que não podem gritar, ou não sabem, ou não querem por conveniência ou medo.Não desistirei da minha luta contra essas normas comportamentais idiotas, contra esses preconceitos loucos, contra essas falsas razões.Deus é único, tenha lá a forma que tiver o nome que tenha.Se existir, mesmo, é superior e não restringe, não delimita, não coloca obstáculos, prega a paz e o amor, a união entre as criaturas e a fraternidade entre os que criou à sua imagem e semelhança.Grito hoje e agora porque ainda tenho força nos braços e enxergo longe.Continuarei lutando enquanto houver uma razão porque a minha certeza é hoje, agora pois amanhã...bem, amanhã será um novo dia...

Nota do Autor: Dedico essa crônica aos que, alheios à sua vontade, são a parte mais fraca dessas novelas diárias no drama interminável da vida que continua...

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é Doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-(ECA/USP). Jornalista profissional desde 1975, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV).